Sendo bem sabido que o Vaticano tem um acordo com o Partido Comunista Chinês, ao qual o Estado Pontifício passou a reconhecer, desde 2018, o direito de interferir nas nomeações episcopais, não surpreende que desta insólita aproximação tenham surgido metas mais ousadas.
Uma dessas metas é a pretensa «beatificação» e «canonização» de figuras que se destacaram pelo seu pensamento e acção a favor da ideologia marxista. Ou seja, as cedências do Vaticano ao pior inimigo da Igreja Católica – o comunismo – começaram a passar da esfera política e diplomática para a esfera espiritual, no âmbito de uma mudança que visa a total desconstrução e subversão da Fé, com a consequente aniquilação da Civilização Cristã e implantação da chamada «nova ordem mundial (NOM)», de inspiração socialista, atéia e agnóstica.
Vejamos então quem é o «candidato» marxista que o Vaticano pretende «beatificar» – em nome da Igreja Católica, é claro! – negando o Evangelho, o Magistério e dois milénios de doutrina incompatível com o marxismo.
Trata-se de D. Hélder Câmara (1909-1999), arcebispo de Olinda e Recife (Brasil) entre 1964 e 1985.
A Nunciatura Apostólica de Washington DC e o postulador da sua «beatificação» foram directamente procurados pelo nosso contacto nos Estados Unidos – Raymond de Souza (Human Life International) – que fez questão de contribuir com alguns apontamentos interessantes e desconhecidos (ou sonegados) sobre a vida de D. Hélder Câmara:
«Tendo conhecido e acompanhado o papel de D. Hélder desde a minha juventude – escreve Raymond de Souza ao postulador, Frei Jociel Gomes OFM, em carta datada de 13 de Maio – também posso testemunhar e contribuir para o processo. E, como brasileiro, embora residente no exterior há muitos anos, sou bom conhecedor das actividades de D. Hélder ao longo dos anos até à sua morte em 1999.
«Quero, portanto acrescentar alguns aspectos de sua vida que não estão presentes na descrição, a fim de completar o relatório a ser apresentado à Santa Sé.
«Diz-se que D. Hélder “destacou-se pela defesa dos mais pobres, dos direitos humanos e na proposição de novos caminhos para a Igreja”.
«Faltou um elemento importante: a juventude dele foi passada no nazi-fascismo que infestou o Brasil no tempo de Plinio Salgado. O próprio padre Hélder foi secretário do führer tupiniquim e fêz questão de usar a camisa verde do nazi-fascismo por baixo da batina, no dia em que foi ordenado sacerdote.
«Quanto à “defesa dos direitos humanos”, manteve-se calado como uma múmia sem nada dizer da opressão sofrida pelos povos subjugados ao comunismo e sobre as vítimas do terrorismo no Brasil e na América Latina em geral.
«Além disso, entre os “novos caminhos para a igreja” que propôs, ficou famoso por sua completa oposição à encíclica Humane Vitae [de Paulo VI] e pelo seu apoio ao divórcio, defendendo também a idéia estranha de que a ciência poderia um dia criar vida artificialmente.
«Elogia-se o seu “dinamismo e habilidade diplomática”, certamente em referência ao apoio que deu à inclusão da China comunista na ONU e de Cuba no concerto das nações americanas. Regimes opressores e tiranos, que o Cardeal Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) designou como “vergonha dos nossos tempos”.
«A sua actuação no Concílio Vaticano II foi notável pelo apoio dado à ordenação sacerdotal de mulheres.
«A formação das comunidades eclesiais de base pode ter sido uma acção comunitária excelente, mas D. Hélder desviou-as para a ‘teologia da libertação” e usou-as para enganar as classes mais pobres do Brasil, fazendo-as marionetas da propaganda política marxista. Recorde-se que o então Cardeal Ratzinger qualificou a “teologia da libertação” como “traição da causa dos pobres”.
«Não pode também ser ignorado o seu apoio ao tristemente famoso padre Joseph Comblin, que fomentava o terrorismo armado no Brasil para impôr uma revolução violenta do tipo cubano.
«Referido como “defensor dos Direitos Humanos durante o regime militar brasileiro”, D. Hélder Câmara fê-lo de modo caôlho: só abria o ôlho direito para o que a direita fazia de errado e jamais o esquerdo para o que faziam principalmente os terroristas e os governos dos países comunistas – Cuba, China e outros Estados da Cortina de Ferro – onde tais direitos eram continuamente violados.
Padre Camilo Torres (esq.) e Che Guevara, dois conhecidos guerrilheiros alinhados na mesma ideologia de D. Hélder Câmara e muito bem aceites no Vaticano. Não irão também ser objecto de algum processo de beatificação?…
«Dom Hélder foi também indicado para o prémio Nobel da Paz em 1972. Embora conhecido como “Dom da Paz” e “irmão dos pobres”, declarou à imprensa do Chile que respeitava quem se sentia obrigado a escolher a violência, referindo-se ao padre comunista guerrilheiro Camilo Torres e ao revolucionário Che Guevara.
«Finalmente, diz a descrição que “possuía notável habilidade com a oratória e reunia multidões nas missas e conferências, atraindo a atenção principalmente da juventude católica”. Seu modo demagógico de falar sem dúvida atraía muitos entre os que não conheciam toda a verdade sobre êle, mas apenas o que a propaganda promovia, como pude testemunhar pessoalmente numa conferência dêle em Montreal.
«Conclusão: Um arcebispo com esse passado sinistro está longe de ser como a outra personagem da qual o senhor, Frei Jociel Gomes, tambem é postulador: o bispo-mártir Dom Frei Vital de Oliveira, assassinado pelos inimigos da Santa Igreja.
«Espero que estas informações sejam suficientes para arquivar de uma vez o processo de beatificação do “Arcebispo Vermelho do Brasil” e que o falso e altamente imerecido título de “Servo de Deus” seja removido do seu nome.
«Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, o ajude a si, Frei Jociel Gomes, a promover toda a verdade sobre D. Hélder Câmara, evitando que a sua demagogia e as suas opiniões favoráveis ao comunismo jamais sujem o nome da Santa igreja, criando o escândalo de beatificá-lo sem qualquer merecimento e levantando sérias e preocupantes dúvidas sobre a faculdade de beatificar da Santa Sé.»
Assim conclui Raymond de Souza a sua carta ao postulador do processo de «beatificação» de um clérigo que fez «carreira» revolucionária dentro Igreja, sem qualquer obstrução das mais altas autoridades eclesiásticas e acabando mesmo por receber o privilégio de ser escolhido para a devoção pública que o coloca paradoxalmente em pé de igualdade com os que sacrificaram as suas vidas na resistência contra o comunismo.
Fontes:
Raymond de Souza: «Can the Vatican beatify a promoter of Communism?»
Church Militant