
Filho de barão alemão e de mãe italiana dos Abruzos, João de Capistrano resumia em si a tenacidade da gente germânica e a desenvoltura dos mediterrânicos. Foi infatigável organizador de obras de caridade, mensageiro de paz, mas também animador das tropas católicas que combateram às portas de Belgrado contra os invasores turcos muçulmanos.
«Fosse avançando, fosse retrocedendo, fosse golpeando ou batido», sempre se ouvia a sua voz estentórea a gritar «Invocai o nome de Jesus, só nele há a salvação!».
Em razão da sua origem e da sua aparência germânica, tinha uma longa cabeleira loira que «fazia uma bela dança» no movimento das batalhas. Também por isso o chamavam de Giuantudesco [João Alemão].
João de Capistrano doutorou-se em jurisprudência em Perúgia e foi logo nomeado juiz e governador da capital da Úmbria. Casou-se mas, com a conquista da Perúgia pelos Malatesta, perdeu a mulher, o alto cargo e a própria liberdade.
De facto, foi parar à prisão onde teve muito tempo para meditar sobre a vaidade e a fugacidade das honras mundanas. Saiu transformado interiormente, mas não enfraquecido nas forças nem no desejo de trabalhar pelo bem da Igreja.
Tendo obtido a nulidade do seu casamento pelo falecimento da mulher, pôde ser acolhido no convento dos frades Franciscano observantes da reforma propugnada por São Bernardino de Siena, de quem entretanto se tornou amigo e fiel discípulo.
Passou o resto da vida como legado papal em vários Estados, da Palestina à Silésia e à Boémia, onde entrou em choque com os hereges hussitas.
Os Papas que o tiveram como conselheiro confiaram-lhe repetidas missões diplomáticas em toda a Europa. A sua ordem religiosa enviou-o à Terra Santa e aos Países Baixos, como visitador. Em algumas dessas missões, foi surpreendente a rapidez com que compareceu em certos lugares, sabendo-se que o único meio de locomoção que tinha disponível era uma mula.
Em 1456, São João de Capistrano foi enviado pelo Papa Calisto III (1455-1458), juntamente com outros frades, para pregar durante a Cruzada contra o Império Otomano, que tinha invadido a península balcânica e avançava em direcção a Belgrado.
O comando da cruzada foi confiado a João Corvino (János Hunyadi), um nobre húngaro que se tornara ilustre em lutas anteriores e que mais tarde alcançou celebridade na luta contra os turcos. Auxiliado por São João de Capistrano, Hunyadi conduziu o exército católico em direcção aos infiéis. O encontro decisivo deu-se no cerco de Belgrado, em Julho desse ano de 1456. Faltando a Hunyadi quem capitaneasse a ala esquerda do seu exército, disto se encarregou São João de Capistrano, com raro acerto e vigor. Quando terminou a batalha, jaziam no campo mais de cem mil guerreiros muçulmanos e o sultão Maomé II tinha sido posto em fuga.
Com este triunfo para a Igreja Católica e fama de grande general, acabou também aqui a vida admirável do heróico frade franciscano. No caminho de regresso, prostrado de fadiga e contagiado pela peste, veio São João de Capistrano a morrer no convento de Ilok, na actual Croácia, em 23 de Outubro de 1456.
Canonizado pelo Papa Alexandre VII, em 1690, é padroeiro dos capelães militares desde 1984.
A. J. Alves da Silveira