São Gabriel Possenti (também conhecido como São Gabriel de Nossa Senhora das Dores ou São Gabriel da Virgem Dolorosa), é o nome pelo qual ficou conhecido Francesco Possenti (1836 – 1862) que viveu no século XIX, na cidade de Isola del Gran Sasso, na região do Abruzzo, Itália.
Francesco era filho de um rico advogado dos Estados Pontifícios, sendo considerado exímio cavaleiro e atirador. Os seus biógrafos dizem que ele era elegante, mulherengo, grande dançarino e que não perdia uma festa. Consta que certa vez ficou noivo de duas jovens ao mesmo tempo.
Com essas estrepolias e vida de playboy desregrada, ninguém acreditou quando ele disse que após completar os seus estudos iria tornar-se padre. Na verdade, durante uma grave doença que o acometeu, ele prometeu que, se ficasse bom, dedicaria a sua vida a Deus. Passada a doença, é claro que esqueceu o prometido. Porém, outra vez caiu enfermo e novamente repetiu a promessa. Depois de curado e de mais uma vez esquecer o prometido, estava ele assistindo a uma procissão que passava com uma grande imagem de Nossa Senhora, quando os olhos d’Ela o fitaram fixamente e lhe fizeram ourvir as seguintes palavras: «Cumpre a tua promessa!». Aturdido pelo sinal divino, decidiu cumprir o prometido e, com vinte anos de idade, entrou para o seminário local onde recebeu o nome de irmão Gabriel.
Em 1860, após a batalha de Castelfidardo, cerca de vinte mercenários renegados, ligados ao exército maçónico de Garibaldi, apareceram na cidade para pilhá-la e aterrorizar os moradores. O Irmão Gabriel, com a autorização do reitor do seminário, caminhou desarmado para o centro da cidade a fim de enfrentar os terroristas. Um dos mercenários, que estava prestes a violentar uma jovem, ridicularizou-o por vir sozinho enfrentá-los.
Possenti, numa rápida manobra, tirou o revólver da cintura do mercenário e ordenou-lhe que soltasse a mulher. Enquanto o homem obedecia ele dominou outro soldado que se aproximava, apropriando-se também do seu revólver. Ao verem o que estava a acontecer, os outros mercenários acorreram em defesa dos companheiros para subjugar o «impertinente» monge.
Nesse momento, uma lagartixa atravessou a rua entre Possenti e os mercenários que se aproximavam. Quando, por um breve momento o animal parou, Possenti fez pontaria e matou-o com um único tiro certeiro. Apontando em seguida os dois revólveres para os mercenários, Possenti ordenou a todos que largassem as suas armas imediatamente. Diante da exibição de pontaria, os soldados obedeceram. Possenti ordenou-lhes ainda que apagassem todos os fogos que tinham ateado e que deixassem a cidade imediatamente.
Após a retirada dos mercenários, o povo agradecido levou Possenti nos braços até o seminário chamando-o de «Salvador de Isola».
Possenti queria ser enviado para as Missões após a sua ordenação, mas morreu muito jovem, em 1862, aos 24 anos. Foi canonizado em 1920 pelo Papa Bento XV como «São Gabriel Possenti da Madre Dolorosa» e, juntamante com São Luis de Gonzaga, foi considerado um dos padroeiros da juventude. A sua festa é comemorada no dia 27 de Fevereiro.
(Imagem: Catholic Faith on the move)
É evidente que não foi o episódio descrito acima que levou à canonização de São Gabriel Possenti. Foi o seu exemplo de vida e de conversão, mostrando que a santidade não é incompatível com as armas e com as virtudes humanas da coragem e da determinação.
Por tudo isto, atiradores e proprietários de armas de todo mundo fizeram campanha para torná-lo também Padroeiro dos Cidadãos Armados. A campanha foi liderada por John Snyder, um ex-seminarista e atirador americano que entregou ao Papa João Paulo II, em 5 de Março de 2001, uma medalha da Sociedade São Gabriel Possenti onde se vê na frente uma imagem do Santo, um revólver e uma osga rodeados pelos dizeres: «São Gabriel Possenti protector dos atiradores». No verso vê-se um alvo estilizado e os dizeres: «Guiai a nossa mira para que acerte no centro. Protegei-nos dos inimigos do amor, da justiça e da liberdade». Em carta datada de 12/3/2001, o Secretário de Estado do Vaticano, Monsenhor Pedro Lopez Quintana escreveu a John Snyder dizendo que «o Papa apreciou o presente e os devotados sentimentos que o motivaram».
Na carta com que encaminhou a medalha ao Papa, Snyder afirmou que «a nossa devoção a São Gabriel Possenti vem do exemplo em que ele nos mostra a ligação intima e consistente que existe entre o direito à vida, o direito à legítima defesa, o direito à posse de meios defensivos e o direito de se armar para defesa própria».