Plinio Corrêa de Oliveira
Santa Isabel era filha do rei Pedro III de Aragão. A sua santidade já era grande e ela ainda menina, já era estimada pelas suas virtudes. Todo o tempo que a sua vida de princesa deixava livre, era empregado em actos de caridade para com os pobres e de piedade. A igreja era o lugar onde gostosamente passava, quando podia, horas inteiras rezando. Com 8 anos tomou a resolução de rezar diariamente o Ofício Divino, perseverando nela por toda a sua vida. Desde menina fazia ela jejum todos os sábados e nas vésperas das festas de Maria.
Todo o seu exterior denotava o seu grande amor à virtude da pureza. Apesar de inteligentíssima, a sua atitude sempre modesta, atraía a simpatia e admiração de todos.
Na idade de 12 anos, foi dada como esposa ao rei de Portugal.
Não tendo liberdade de escolher a sua vocação, sujeitou-se serenamente às obrigações impostas às pessoas de sua qualidade e dispôs-se a continuar no trabalho de sua santificação.
Três vezes por ano, jejuava ela por 40 dias, só se alimentando de pão e água. A sua vida era extremamente metódica, sendo dividida entre as suas obrigações de estado, oração e algum trabalho útil. Nunca alguém a encontrou ociosa. Era muito assídua na recepção dos Sacramentos e muito cuidadosa na sua recepção.
Quanto mais santa é a pessoa, maior número de amigos que se julgam bons insistem em afastá-la de seus deveres. A esses sempre respondia ela: “Poderá haver maior utilidade e necessidade de oração que na idade em que os perigos e as paixões se apresentam mais fortes?”
Costumava sempre dizer: “Outro motivo Deus não teve em me fazer rainha, se não de proporcionar-me os meios de socorrer os necessitados”. E todos os dias ia a Santa Rainha à procura de um doente ou de um pobre, em que pudesse exercer a sua caridade.
Deus a recompensou com o dom do milagre. Uma pobre mulher, coberta de úlceras, recuperou a saúde com um abraço da rainha. Tinha ela o hábito de lavar em todas as sextas-feiras os pés a 13 mulheres, em memória do que havia sido feito com os Apóstolos. Numa das vezes, uma mulher apresentou-se com um pé roído por um câncer horrendo, para que a rainha o lavasse. Ela não só o lavou com todo o carinho, mas ainda se debruçou e beijou-o, como costumava fazer. Deus logo a recompensou, e para não lhe permitir que beijasse a chaga nojenta, curou-a imediatamente. Entre outros muitos doentes curados pela Santa Rainha, conta-se uma cega de nascença.
O rei seu esposo não podia exactamente ser chamado virtuoso. Isabel muito se entristecia com os seus desregramentos, mas nunca proferiu um queixume. As suas orações foram atendidas e ela teve a alegria de observar a lenta conversão de seu marido.
Além disso, porém, o rei recebeu a denúncia caluniosa de que a rainha tinha no seu escudeiro não um simples auxiliar na distribuição de suas esmolas. Como para ele, os actos pouco honestos não eram coisas fora de toda a cogitação, acreditou na calúnia e deu ordem ao caieiro da corte que lançasse ao forno, onde se cosia a cal, o escudeiro que lhe viesse perguntar de sua parte se o serviço já estava feito. Chamou então o escudeiro da rainha, e como que se lembrando, na hora, de uma providência que havia esquecido, manda-o que procure o caieiro e pergunte se o serviço já estava feito.
Dispôs-se o pajem a cumprir a vontade de El-Rei, mas como, ao passar pela capela, ouvisse o sinal da entrada de uma Missa, achou que bem podia a ordem de el rei esperar um pouco.
Estando El-Rei e o escudeiro que denunciara o outro muito curiosos por saber o resultado da operação, pediu o moço licença para ir perguntar ao caieiro como se tinha passado a cena. Como, porém, vinha da parte de El-Rei, disse a senha sem o saber. Foi assim agarrado e lançado ao forno, apesar dos seus protestos. Logo depois veio o pajem da Rainha e ouvido do caieiro que realmente o serviço já estava feito. Como ele de nada soubesse, foi-se tranquilamente ao Rei e lhe disse que o caieiro lhe respondeu que sim. Dom Dinis, muito admirado por ver em sua presença quem devia estar morto, indagou cuidadosamente do que acontecera e reconheceu o braço da Providência protegendo a inocência.
Muito se arrependeu Dom Dinis da leviandade com que deu crédito à calúnia e com que praticou aquele assassinato e foi o remorso desses dois pecados o primeiro passo para a sua conversão.
Entretanto, esse remorso não impediu que ele desse novamente crédito aos ditos de que a Rainha apoiava o seu filho Afonso, que se rebelara. Sem examinar a questão, o Rei proibiu à Rainha a entrada no palácio, dando-lhe como morada uma simples casa de campo. Deus, entretanto, provou-lhe claramente a inocência de sua esposa, passando então Dom Dinis a tratá-la com toda a consideração.
Logo depois, caiu gravemente enfermo, sendo tratado pela própria rainha que já tratara a tantos enfermos muito menos ilustres. Arrependido dos seus pecados, morreu bem o mau marido dessa Rainha Santa, deixando-lhe ao menos a consolação de ter morrido no Senhor.
Isabel imediatamente se retirou para o convento das Clarissas em Coimbra, convento que ela mesma havia edificado. Mas a superiora não a quis receber mostrando-lhe ser o seu lugar no mundo.
Duas peregrinações fez a Compostela. A segunda fez ela a pé, na companhia de duas criadas, vivendo as três unicamente de esmolas.
O seu último trabalho foi evitar uma guerra entre o Rei seu filho e um soberano vizinho. Pouco tempo depois, adoecia e morria depois de ter recebido de joelhos os últimos Sacramentos.
Trezentos anos depois da sua morte, o seu corpo foi encontrado em perfeito estado. Desde então, Deus digna-se fazer grandes milagres no túmulo de sua serva.
in «Legionário», nº 351, pág.5, 4 de Junho de 1939, São Paulo, Brasil.