
Quando Santa Isabel da Hungria nasceu, em Julho de 1207, cessaram todas as guerras no seu país natal. O seu pai, Rei André II da Hungria (dinastia dos Arpades) e a sua mãe, Gertrudes de Meran, descendente directa de Carlos Magno, tinham motivos para se alegrar por esta feliz coincidência.
Quatro anos depois do seu nascimento, o Duque Hermann da Turíngia, enviou magnífica embaixada à Hungria para solicitar ao Rei a mão de Isabel para o seu filho Hermann. Mas como este faleceu prematuramente, o noivado ficou para o infante Luís com quem Isabel teve um matrimónio muito feliz.
A partir dos quatro anos, a princesa Isabel da Hungria passou então a viver na corte da Turíngia, onde, à medida que crescia, ia revelando uma profunda piedade que se manifestava em todos os seus actos e que inevitavelmente suscitou invejas na corte, onde era acusada de ser excessivamente religiosa, reservada e carente daqueles traços mundanos que eram tidos como atributos necessários a uma princesa. Também se dizia maliciosamente que Santa Isabel iria depauperar o reino com as esmolas que dava aos indigentes.
Aos 13 anos casou-se então com o seu prometido Luís da Turíngia que tinha todas as qualidades de um verdadeiro defensor da Igreja. Em 1227 partiu para a Terra Santa como cruzado, com a elite dos cavaleiros da sua corte, mas desta viagem não regressou por ter falecido, vítima da peste.
«Hospedada» no lugar dos porcos…
Viúva aos 20 anos, Santa Isabel viu abater-se sobre si a inveja e a perseguição que já tinha conhecido no passado. Apesar de ser já mãe de três crianças, uma delas recém-nascida, o seu cunhado Henrique, que jurara protegê-la, não hesitou em expulsá-la do palácio com os filhos e com as duas damas de honra que lhe permaneceram fiéis. Como se isso não bastasse, ainda deu ordens a toda a população para que não a acolhessem em parte alguma.
E assim, em pleno Inverno, esta Princesa da Hungria e Duquesa herdeira da Turíngia viu-se repentinamente na maior indigência, desprezada e humilhada nos seus próprios domínios, obrigada a mendigar pelas ruas e a bater de porta em porta, procurando quem lhe desse abrigo. Conseguiu-o numa estalagem cujo dono lhe destinou o lugar onde tinha os porcos, retirando-os de lá para que a pobre princesa e os seus filhos ali pudessem abrigar-se.
Desamparada, andou pela cidade onde tanta gente tinha beneficiado das esmolas que distribuíra com a prodigalidade que lhe era peculiar. Finalmente um padre, pobre também, acolheu-a e protegeu-a como pôde, mas ainda assim continuou em tal estado de pobreza que se viu obrigada a entregar os filhos à protecção de outras pessoas, para que não morressem de fome.
Aparições do Redentor, de Nossa Senhora e de São João Baptista
Na sua vida de miséria e desamparo, Santa Isabel da Hungria sofreu inúmeras humilhações, tantas vezes vindas daquelas pessoas a quem generosamente tinha ajudado quando estavam necessitadas. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo, que a ninguém esquece, aparecia para consolá-la nas suas aflições. São João Batista vinha confessá-la e Nossa Senhora muitas vezes visitava-a para instruí-la, esclarecê-la e fortificá-la. Foi nessa ocasião que decidiu viver apenas para Deus.
Tendo os seus parentes da Hungria sabido das provações por que passava, foi socorrida pelo seu tio, o Bispo-Príncipe de Bamberg, que lhe cedeu um castelo digno da sua alta condição.
Entretanto, também os cavaleiros vassalos do seu falecido marido, o Príncipe Luís da Turíngia, tomaram conhecimento da situação ao voltarem da Cruzada. Impondo-se ao cunhado Henrique, acusaram-no de ter ofendido a Deus e de ter desonrado o Ducado da Turíngia. Sob pena de excomunhão, o próprio Papa obrigou Henrique a restituir a Isabel os domínios que lhe tinha usurpado. A santa princesa aceitou todos os bens e fortuna a que tinha direito, não para proveito próprio, mas para favorecer os pobres.
Crescendo sempre no desejo de praticar a caridade, acabou por se dedicar exclusivamente à vida religiosa como irmã terceira franciscana.
A sua paciência e caridade não tinham limites. Nada a irritava ou descontentava. Na assistência aos doentes, nunca se tinha visto tão maravilhoso triunfo sobre os sentidos. Todos se espantavam ao ver como a filha de um rei e viúva de um duque tratava os indigentes mais miseráveis. Até pessoas piedosas achavam que os seus cuidados eram exagerados.
O seu pai, Rei André II da Hungria, sabendo como ela vivia, enviou mensageiros com a missão de tentarem fazer com ela saísse do seu «estado miserável». Santa Isabel disse-lhes então que, vivendo assim, era mais feliz que seu pai no palácio real. E voltou serenamente ao seu trabalho de fiar a lã para vestir os pobres.
Santa Isabel tinha o raro dom de saber harmonizar a vida activa com a contemplativa. Apesar das fatigantes obras de misericórdia a que se dedicava, sempre encontrava tempo para passar longas horas em oração e meditação.
Era incansável na distribuição de benefícios materiais e espirituais. Certa vez ordenou a um surdo-mudo, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que dissesse quem era e de onde vinha, ao que ele imediatamente obedeceu, contando a sua história. Também curou milagrosamente muitos cegos, estropiados e possessos.
Santidade atestada por milagres, antes e depois da morte
Santa Isabel tinha apenas 24 anos quando Nosso Senhor a chamou a Si para premiá-la com a glória celestial. Na véspera da morte, a sua fisionomia transformou-se e o seu olhar resplandeceu, manifestando uma alegria e uma felicidade que cresciam a cada instante. Quando exalou o seu último suspiro, espalhou-se pelo ar um delicado perfume, ao mesmo tempo que um coro de vozes celestiais se fez ouvir em cânticos de júbilo. Era o dia 19 de Novembro de 1231.
A notícia da sua morte atraiu uma multidão que desejava contemplá-la pela última vez antes do sepultamento. Eram pessoas de todas as condições sociais, que não se inibiam em lhe tirar pedaços das vestes, mechas de cabelo, fragmentos de unhas, etc., guardando-os piedosamente como relíquias.
Para que todos a vissem, foi necessário prolongar a exposição do corpo por quatro dias, durante os quais o seu rosto se conservou como se estivesse viva. Na noite que precedeu o enterro, o tecto da Igreja encheu-se de pássaros desconhecidos, que cantavam melodias nunca ouvidas.
Após a sua morte verificaram-se muitos milagres atribuídos à sua intercessão, tais como a cura de cegos, surdos, leprosos, paralíticos, etc. Isto suscitou um tal movimento popular pela sua canonização, que o Papa Gregório IX sem demora a conduziu à honra dos altares, canonizando-a em comovente cerimónia celebrada no dia de Pentecostes, a 26 de Maio de 1235, decorridos apenas três anos e meio depois do seu falecimento.
Santa Isabel da Hungria era tia-avó de Santa Isabel, Rainha de Portugal, e a ela foi também reconhecido um Milagre das Rosas, em tudo semelhante ao da Rainha Santa.