Armando Alexandre dos Santos
Os presépios são representações artísticas do cenário singelo e ao mesmo tempo rico em simbolismo da gruta de Belém, na qual nasceu Jesus Cristo, o Filho de Davi, o Esperado das Nações, Aquele que reconciliaria, por sua Paixão e Morte, a humanidade pecadora com o Criador.
Os Evangelhos são extremamente parcimoniosos no relato das circunstâncias concretas que cercaram o Natal. Dois Evangelistas, Marcos e João, silenciaram de todo. São Mateus, numa única frase, registrou que Jesus nasceu em Belém de Judá no tempo do rei Herodes, e logo a seguir passou ao relato da visita dos magos que vieram do Oriente, guiados pela estrela, para adorar o Menino (Mt, 2,1-12). São Lucas, o que mais extensamente tratou do acontecimento, limitou-se a dizer que José e Maria não encontraram alojamento na estalagem e por isso o Menino nasceu numa manjedoura, foi envolto em panos e ali recebeu a visita dos pastores (Lc 2,1-20).
Na tradição eclesiástica, em parte baseada em elementos confiáveis de alguns apócrifos muito antigos, firmou-se a ideia completa da gruta e dos animais que compuseram o quadro. Manjedoura, ou presépio, era o recipiente em que os animais comiam; essas mesmas palavras, por extensão, também podiam designar o estábulo ou aprisco, local em que os animais eram recolhidos à noite; tais abrigos, na região de Belém, geralmente eram localizados em grutas naturais. A presença do boi e do asno, reconhecendo e adorando o seu Senhor, foi textualmente registrada no apócrifo Evangelho do Pseudo Mateus (cap. XIX), que influenciou bastante a literatura e a arte medievais. Essa presença tem alguma base escriturística na aplicação, endossada pela autoridade de São Jerônimo (Epitaphium Sanctae Paulae, 10), de uma passagem do Profeta Isaías: “O boi conhece o seu dono e o jumento conhece o presépio do seu senhor, mas Israel não me conheceu e meu povo não teve inteligência” (Is 1,3).
A tradição, a piedade e a livre imaginação dos fiéis produziram, ao longo dos séculos, incontáveis representações de presépios, desde as mais simples e ingênuas, até as mais especiosas e requintadas. Os elementos essenciais do presépio são, evidentemente, Jesus, Maria e José. Elementos acessórios, mas quase indispensáveis, são o jumento e o boi. Quanto ao mais, a imaginação é livre. Não há limites para ela. A variedade é imensa e é inesgotável.
São Francisco de Assis, no início do século XIII, teve pela primeira vez a ideia de formar presépios vivos. Realizou seu intento na cidade italiana de Greccio. Coube à espiritualidade franciscana colocar os presépios no foco da devoção e da arte no mundo inteiro, mas já muito antes disso havia representações iconográficas e iluminuras natalinas. Algumas bem antigas foram preservadas até hoje, como por exemplo o afresco, provavelmente do século IV, que se vê numa das galerias do cemitério de São Sebastião da via Ápia; nele aparecem o boi e o jumento, ajoelhados diante do Menino-Deus envolto em panos. Nenhum símbolo natalino é tão completo e tão universal quanto o presépio. A árvore de Natal, de origem germânica, o «Papai Noel» (modo artificial e pouco piedoso de laicizar a figura clássica do bispo São Nicolau), a estrela de Belém, os sinos – tudo isso exprime o Natal, sem dúvida, mas nenhum de modo tão perfeito quanto o presépio. Infelizmente, na vida moderna descaracterizou-se de todo o autêntico espírito de Natal e por isso até mesmo representações do presépio são prejudicadas por elementos que as distorcem. Algumas delas, com tanto mau gosto que chegam ao patético e quase à blasfêmia, como o presépio deste ano, em má hora colocado pelo Vaticano na Praça de São Pedro; nele, os personagens aparecem como grotescas figuras de astronautas ou ETs!