Portugal e a Guerra do Ultramar: a «vitória perdida»

19 Fevereiro 2024

Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.
(Fernando Pessoa)

Jonathan Llewellyn

Espero que perdoem a um estrangeiro intrometer-se neste grupo, mas é preciso que alguém diga certas verdades.
A insurgência nos territórios ultramarinos portugueses não tinha nada a ver com movimentos nacionalistas. Primeiro, porque não havia (como ainda não há) uma nação angolana, uma nação moçambicana ou uma nação guineense, mas sim diversos povos dentro do mesmo território. E depois, porque os  movimentos de guerrilha foram criados e financiados por outros países.
ANGOLA – A UPA, e depois a FNLA, de Holden Roberto foram criadas pelos americanos e financiadas (directamente) pela bem conhecida Fundação Ford e (indirectamente) pela CIA.
O MPLA era um movimento de inspiração soviética, sem implantação tribal, e financiado pela URSS. Agostinho Neto, que começou a ser trabalhado pelos   americanos. só depois se virando para a URSS, tinha tais problemas de alcoolismo que já não era de confiança e acabou por morrer num pós-operatório. Foi substituído por José Eduardo dos Santos, treinado, financiado e educado pelos soviéticos.
A UNITA começou por ser financiada pela China, mas, como estava mais interessada em lutar contra o MPLA e a FNLA, acabou por ser tolerada e financiada pela África do Sul. Jonas Savimbi era um pragmático que chegou até a um acordo com os portugueses.

O Exército Português foi talvez o único, no século XX, que soube reconhecer no tradicional conceito de cavalaria a cavalo, a arma ideal para o combate à guerrilha no contexto das vastas savanas de África. Sem ter que se sujeitar a picadas, trilhos ou quaisquer itinerários pré-estabelecidos, a Tropa a Cavalo nunca sofreu emboscadas e deslocava-se com facilidade e rapidez em todo o terreno, surpreendendo quase sempre o inimigo. A sua Unidade no Ultramar foi o Grupo de Cavalaria 1, «Dragões de Angola», aquartelado em Silva Porto, com mais alguns esquadrões distribuídos por outras localidades do Distrito do Bié. Em 1973/74, a Tropa a Cavalo estava a dar os primeiros passos para ser implementada em Moçambique, mas o 25 de Abril também ali deitou tudo a perder.
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MOÇAMBIQUE – A Frelimo foi criada por conta da CIA. O controleiro do Eduardo Mondlane era a própria mulher, Janet, uma americana branca que casou com ele por determinação superior. Mondlane foi assassinado por não dar garantias de fiabilidade, e substituído por Samora Machel, que concordou em seguir uma linha marxista semelhante à da vizinha Tanzânia.
Quando Portugal abandonou Moçambique, a Frelimo estava em tal estado que só conseguiu aguentar-se com conselheiros do bloco de leste e tropas tanzanianas.
GUINÉ – O PAIGC formou-se à volta do Amílcar Cabral, um engenheiro agrónomo vagamente comunista que teve logo o apoio do bloco soviético.
Era um movimento tão artificial que dependia de quadros maioritariamente cabo-verdianos para se aguentar (e em Cabo Verde não houve guerrilha).
Expandiu-se sobretudo devido ao apoio da vizinha Guiné-Konakry e do seu ditador Sékou Touré, cujo sonho era absorver a Guiné portuguesa, mais tarde ou mais cedo.
Em resumo, os territórios portugueses foram atacados por forças de guerrilha treinadas, financiadas e armadas por países estrangeiros.
Segundo o Direito Internacional, Portugal estava a conduzir uma guerra legítima. E ter combatido em três frentes simultâneas durante 13 anos, estando próximo da  vitória em Angola e Moçambique e com a situação controlada na Guiné, é um feito que, militarmente falando, é único na História contemporânea.
Então por que parecem ter os portugueses vergonha de se orgulharem do que conseguiram?…

Fonte: Transcrição do Facebook publicada por A. João Soares

Saudosismo ou patriotismo?…

Vale a pena este «saudosismo» de tentar «recuperar» o nosso passado ultramarino e procurar remediar aquilo que afinal não se cumpriu? Vale a pena, sim! Se fosse um sentimento estéril, de certeza que a esquerda não faria tão persistentes, empenhados e torpes esforços para tentar denegri-lo e apagá-lo da nossa memória. Vale a pena porque é necessário sabermos quem fomos e o que fizemos. Se não soubermos, seremos como os pobres órfãos dos infantários comunistas, que não conhecem nem pai, nem mãe, nem avós. São apenas «peças» de um Estado totalitário que lhes dá nova «identidade» e que os transforma em escravos. Se queremos ser livres e não desaparecer do mapa das nações, temos que aprender as lições da História, evitar os erros do passado e tentar construir a «ponte» que nos dê passagem para um futuro digno desta Terra de Santa Maria.

NR: A inserção das imagens, as legendas e esta nota final («Saudosismo ou patriotismo?…») são da responsabilidade da nossa Redacção.

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