
John Horvat
A crise na Igreja Católica virou tudo ao contrário. Cansados das renovações litúrgicas, muitos católicos procuram expressões de culto mais tradicionais. Outros lamentam a «feminização» do culto divino pelos progressistas e procuram modelos de fé menos emotivos e mais afirmativos. Tragicamente, estas buscas levam por vezes ao abandono da fé católica.
Um caminho errado para este ideal religioso tem sido a “ortodoxia” oriental. De acordo com um artigo do New York Post, muitos jovens, especialmente homens, estão a aderir às igrejas cismáticas na esperança de encontrar nas suas liturgias antigas algum consolo e o desafio da austeridade e do jejum penitencial. Estes atributos sensoriais e físicos da “ortodoxia” oriental são atractivos para as gerações influenciadas pelo poder da imagem e para aqueles que anseiam por vivências religiosas.
No entanto, esses indivíduos fariam melhor se – antes de caírem no cisma – ouvissem aqueles que, em busca da verdade, estão a deixar as igrejas ditas «ortodoxas» e a converterem-se à Igreja Católica. Esses convertidos já advertiram: «Cuidado! Nem tudo o que reluz é ouro. Nem todo o fumo é incenso. Se procurais a Verdade, olhai apenas para a Santa Igreja Católica Romana.»
Em busca de estabilidade
À superfície, a «ortodoxia» oriental aparece como algo sólido e imutável no meio da crise. A antiga liturgia de São João Crisóstomo (tirada da Igreja Católica) está cheia desse mistério e beleza que atrai os carentes de espiritualidade. Perante esta aparente solidez, a tentação é abraçar de todo o coração essa «ortodoxia».
Mas os cristãos «ortodoxos» orientais que se convertem ao catolicismo têm uma visão diferente. Dizem que é preciso ver para além dessas sedutoras aparências exteriores e enumeram alguns dos principais problemas da «ortodoxia», tais como pobreza de fundamentos doutrinários ou enorme desunião, apontando esses factores como razões para olhar para a Igreja de Roma, apesar da sua actual crise apocalíptica.
Estes novos convertidos católicos encontram conforto na solidez da milenar doutrina católica tradicional e na estrutura do Magistério da Igreja, que não têm equivalente nas seitas orientais, doutrinariamente apagadas.
Choque de doutrinas
De facto, os novos pesquisadores da verdade têm dificuldade em compreender como é possível que católicos convertidos e bem conhecidos, como Rod Dreher [1], tenham abandonado Roma para abraçar o cisma oriental.
Max Grigorieff, um russo que andou também em busca da verdade, perguntou recentemente no site «OnePeterFive», por que razão haveria um católico «de se juntar a uma dessas igrejas que permitem a contracepção e literalmente invocam dezenas de motivos para o chamado ‘divórcio cristão’, aberto a novos casamentos, não tendo igualmente quase nenhum problema em dar a Sagrada Comunhão a essas pessoas divorciadas» ou que «permite a um padre viúvo e abandonado arranjar nova esposa».
Grigorieff refere que todas estas aberrações (e outras mais) existem na «ortodoxia» oriental. E embora a sua liturgia tenha subsistido, a sua doutrina estagnou desde o século VIII e não é nada ortodoxa [2]. A crença cismática não tem um corpo doutrinário fixo nem um magistério no qual se possa inspirar para resolver os problemas da sociedade moderna com que os fiéis se confrontam. Nem sequer dispõe de mecanismos que lhe permitam desenvolver doutrina ou alcançar unidade em questões fundamentais de fé.
Acresce que esses católicos estão a apostatar para algo que não existe, ou seja, para uma igreja «ortodoxa» universal. O cisma oriental degenerou em várias igrejas fragmentadas e continuamente envolvidas em guerra civil. É comum que uma federação de igrejas proíba a interação com outras. Algumas chegam ao ponto de cometer sacrilégio, rebatizando membros de facções «ortodoxas» inimigas.
A fragmentação estende-se às divergências doutrinárias. Tal como os protestantes, a «ortodoxia» tem uma multiplicidade de opiniões e crenças, uma vez que não existe uma autoridade unificadora que se pronuncie e resolva polémicas. As diferentes seitas «ortodoxas» discordam em questões vitais para a salvação, tais «como a eficácia dos Sacramentos». Muitas facções foram influenciadas pelas heresias protestantes que se afastaram do depósito da fé.
Falta de doutrina social
Greg Cook, um jovem americano que procura a verdade, também relata o seu percurso espiritual da «ortodoxia» ao catolicismo num outro artigo do referido site «OnePeterFive». Começou o seu processo de conversão analisando o papel da doutrina social, constatando as carências de tal doutrina entre as igrejas «ortodoxas», uma vez que estas se baseiam apenas na patrística (os ensinamentos dos primeiros pais da Igreja). Esta visão patrística coloca muito mais ênfase no monaquismo e no ascetismo, que começaram a desenvolver-se na Igreja primitiva. Como resultado, os cismáticos nunca desenvolveram um corpo de ensinamentos que se concentrasse na doutrina e na organização social.
Cook também critica a falta de unidade entre as diferentes seitas, o que torna impossível qualquer acordo sobre o ensino social. Os líderes ditos «ortodoxos» nem sequer tiram partido dos desenvolvimentos positivos dos ensinamentos sociais da Igreja Católica, uma vez que nutrem uma hostilidade visceral contra tudo o que é ocidental, especialmente romano.
Num dos seus trabalhos universitários, Cook, ainda antes de ser católico, afirmava que, devido às lutas internas, às divergências étnicas e nacionalistas, os «ortodoxos» não «partilham uma missão mundial de filantropia e de caridade».
Mais tarde, num outro artigo, Cook concluiu: «A genialidade do catolicismo está em ter uma fé para todos os lugares, para todas as pessoas e todos os tempos. A doutrina social da Igreja é a aplicação da mensagem de Cristo para o mundo. A justiça e a caridade não conhecem fronteiras».
O fascínio da liturgia sem amarras doutrinárias
Os testemunhos destes recentes peregrinos vindos da «ortodoxia» para o catolicismo são apenas duas das muitas conversões de quem sente as deficiências das seitas cismáticas orientais e que agora se alegra na sua comunhão com a Igreja Católica.
Estas vozes devem servir de aviso para aqueles que se sentem atraídos pelo fascínio e pelas armadilhas de uma liturgia antiga mas sem parâmetros doutrinários ou sem unidade visível.
De facto, existe uma imensa fome espiritual de Deus, da sua Lei e do seu culto, sobretudo entre as novas gerações. Esta fome procura naturalmente saciar-se numa igreja visível, mas é fundamental que seja a Igreja através da qual Deus se manifesta à humanidade, ou seja, a Igreja Católica.
É verdade que a busca pelo espiritual na Igreja Católica se torna muito mais difícil em vista da terrível crise que a tem devastado e na qual a Fé se tem reduzido a meras práticas exteriores.
No entanto, os que deixaram a «ortodoxia» mostram que a conversão é possível para quem escuta a voz da graça de Deus. Os que procuram a Verdade, portanto, devem estar atentos para não se desviarem do bom caminho.
Notas:
[1] Rod Dreher é um influente intelectual conservador americano que acompanhou o vice-presidente J. D. Vance na sua conversão ao catolicismo. Dreher cresceu e foi educado no anglicanismo metodista, tendo-se convertido ao catolicismo em 1993. Em 2006, porém, desiludido com os escândalos que envolveram importantes figuras do Clero, abandonou o catolicismo e aderiu à «ortodoxia» oriental, na qual permanece até hoje.
[2] «Ortodoxia» significa «a doutrina proclamada verdadeira», o que absolutamente não se aplica às diversas igrejas cismáticas, por mais que todas elas queiram arrogantemente apoderar-se desse atributo desde que se separaram da Igreja Católica e desde que se dividiram conflituosamente entre si.
NR: A tradução desta matéria e as notas acima são da responsabilidade da nossa Redacção.
Fonte: American TFP