Os novos desafios da Europa sob ameaça russa

20 Março 2025

A Europa enfrenta actualmente sérios desafios decorrentes das acções da Rússia e das políticas dos Estados Unidos, especialmente sob a nova administração de Donald Trump. A invasão russa da Ucrânia e o distanciamento dos EUA em relação à NATO e ao comércio internacional obrigaram a União Europeia (UE) a repensar e reforçar as suas estratégias de segurança, defesa e autonomia energética.

Em resposta à crescente instabilidade global e às ameaças híbridas da Rússia, a UE adoptou medidas históricas para fortalecer a sua capacidade defensiva. Entre estas medidas destaca-se a emissão conjunta de 150 mil milhões de euros em dívida para a aquisição colectiva de armamento e investimentos na indústria da Defesa. Este esforço visa aumentar a autonomia estratégica da Europa e a preparação para possíveis cenários de segurança sem o apoio dos EUA.

A União Europeia, com efeito, tem procurado alianças com países como o Reino Unido, Canadá, Turquia e Noruega para reforçar os seus planos de rearmamento, face ao afastamento dos EUA. Estas parcerias visam garantir a segurança e apoiar a Ucrânia no seu conflito com a Rússia, mobilizando recursos significativos para a compra conjunta de armamento e modernização das Forças Armadas dos Estados-Membros.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reafirmou o compromisso com o plano de rearmamento europeu negociando um instrumento financeiro de 150 mil milhões de euros, apoiado pelo orçamento europeu, para a aquisição de material militar, permitindo aos Estados-Membros aumentar os gastos em defesa até 1,5% do PIB sem penalizações fiscais.

A UE também tem adoptado medidas para sancionar as actividades desestabilizadoras da Rússia, incluindo ciberataques e campanhas de desinformação. Em Outubro de 2024, foi estabelecido um novo quadro jurídico que permite à UE visar os responsáveis por acções que comprometam ou ameacem a segurança dos seus Estados-Membros.

O problema moral, certamente mais grave que a ameaça militar

Sem dúvida é muito importante o esforço para reestruturação da Defesa, mas nesta matéria a UE já deveria estar de sobreaviso, pelo menos desde o tempo da primeira Administração de Donald Trump, quando este chamou a atenção dos países-membros da NATO para a urgência de investirem mais nas suas Forças Armadas. Os países europeus do Tratado fizeram pouco caso disso e a UE prosseguiu na sua política socialista e pacifista, praticamente ignorando a invasão russa da Crimeia e dos territórios ucranianos do Donbass. Manteve com a Rússia todos os acordos de fornecimento de energia e quando esta invadiu a Ucrânia, já estava a preparar-se para abandoná-la, como aliás se verificou nas primeiras semanas do conflito. Só mudou de atitude perante a determinação ucraniana de resistir e em face da generalizada indignação da opinião pública no Ocidente. Mesmo assim, a ajuda militar dada à nação invadida, foi sempre marcada por limitações incompreensíveis que só têm servido para prolongar a guerra, desgastar a Ucrânia e dar vantagens políticas e militares a Putin. Essas vantagens estão agora à vista, como é sabido.

Resta saber se a União Europeia vai realmente defender a Europa e se não será demasiado tarde. A questão não está tanto nos recursos financeiros e industriais para uma boa recuperação militar, mas principalmente na mentalidade do europeu, acomodado e amolecido por décadas de governação ateia, materialista e suicida, onde o inimaginável se tornou realidade: imigração maciça e descontrolada, concessão de absurdas regalias sociais aos imigrantes, impunidade para os seus crimes, perseguição religiosa aos próprios cidadãos europeus, medidas de protecção à prática do aborto e da eutanásia, implementação da chamada «ideologia de género», etc., etc. Tudo isso tem tido um efeito desmoralizador que agora pode constituir sério entrave à recuperação militar da Europa, principalmente à sua recuperação moral e social, condição fundamental para que haja vontade de resistir e combater.

Mas há males que vêm por bem. O afastamento dos Estados Unidos provocou reacções positivas e rápidas na Europa. A desunião decorrente de décadas de «União» Europeia, parece estar a dar lugar a um sentimento de concórdia, em vista da real ameaça russa.  Claro que a UE tem procurado e procurará sempre liderar esse sentimento, envenenando-o como sempre tem envenenado a Europa, mas pode ser que a dura realidade da guerra e a necessidade urgente da Defesa causem mudanças inusitadas nos povos de onde outrora emanou a Civilização Cristã.

L. F. Ferrand d’Almeida

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