Símbolo da divisão da Europa livre, o Muro de Berlim – também conhecido como «Muro da Vergonha» – começou a a ser construído a 13 de Agosto de 1961, pela «República Democrática Alemã – RDA» que era parte do bloco soviético desde o fim da II Guerra Mundial. Berlim era a capital deste novo Estado comunista, mas a sua metade Ocidental permaneceu sob a administração dos Aliados, constituindo assim uma «illha» do mundo livre cercada por um território ocupado pelos soviéticos.
Para os habitantes de Berlim Oriental, portanto, o único meio de alcançarem a liberdade consistia em fugir para Berlim Ocidental. Como o fluxo desses refugiados era contínuo, a RDA resolveu acabar com isso construindo o «Muro da Vergonha» e transformando Berlim Oriental em autêntica prisão.
Com efeito, o Muro foi concebido como instalação militar, com torres de vigia, holofotes e arame farpado. Os guardas tinham ordens para atirar a matar sobre quem tentasse atravessar esta fronteira, sendo responsáveis pela morte de centenas de alemães que procuraram fugir para a liberdade.
A primeira vítima foi Günter Litfin, um alfaiate de 24 anos que trabalhava em Berlim Ocidental mas que morava do lado Oriental. Impedido de continuar a trabalhar por causa do Muro, Günter decidiu fugir no dia 24 de Agosto de 1961.
Mergulhou no canal que separava a cidade e nadou em direcção a oeste. Ao ser descoberto nas margens do rio Spree, foi atingido na cabeça pelo tiro de um sentinela.
O assassinato deste jovem foi um aviso para quem futuramente ousasse passar a fronteira, mas a verdade é que as tentativas de fuga continuaram a verificar-se das mais diversas formas: através de túneis próximos à fronteira, em fundos falsos nos carros, comboios e barcos, por cabos aéreos que passavam em cima do Muro e até mesmo em balões. Oficialmente, 138 pessoas morreram na tentativa de atravessar o muro, mas a imprensa alemã afirma que houve bem mais de mil vítimas fatais.
Outro caso de assassinato no Muro da Vergonha foi o que ocorreu pouco antes da meia-noite de 5 de Fevereiro de 1989.
Os jovens Chris Gueffroy e Christian Gaudian, depois de passarem uma área de pomares em Berlim Oriental, dirigiram-se ao Canal Britz. Através dele, esperavam conseguir cruzar essa fronteira que era mundialmente conhecida como uma das mais vigiadas e cruéis.
Os dois tinham sido erroneamente informados que estava revogada a ordem para atirar a matar sobre quem tentasse atravessar o Muro. A informação tinha sido obtida de fonte que consideravam fiável: um guarda de fronteira que trabalhava na Turíngia.
Corajosamente, conseguiram passar a primeira barreira, com mais de três metros de altura – o chamado «muro interior» – tentando em seguida passar por uma cerca onde um deles, sem querer, accionou um alarme que acendeu os holofote e iluminou toda a área.
Correndo, os dois chegaram ao último obstáculo que era outra barreira com três metros de altura. Desesperados, tentaram ajudar-se mutuamente para ultrapassá-la mas foram entretanto localizados pelos sentinelas que imediatamente abriram fogo sobre eles.
Chris Gueffroy morreu com um tiro no coração e Christian Gaudian ficou gravemente ferido, sendo depois aprisionado.
O som dos tiros chegou a ser ouvido por Karin Gueffroy, mãe de Chris. Só alguns dias depois, ela soube que o seu filho tinha morrido naquela noite. Foi ele a última vítima fatal que os guardas do Muro abateram a tiro, seguindo as ordens do Estado comunista da RDA.
Mais de mil pessoas morreram em Berlim ao tentar atravessar o Muro da Vergonha.
Quanto à extensa fronteira entre as duas Alemanhas, os investigadores analisaram 1492 casos suspeitos de morte por abate, mas consideraram que seriam necessárias novas pesquisas sobre as tentativas de fuga através do Mar Báltico e de outros países do antigo bloco soviético.
As pesquisas levaram em conta apenas as mortes em que houve ligação directa com o regime da fronteira, incluindo pessoas baleadas que nem sequer tinham intenção de atravessá-la. Entre os próprios guardas também houve quem tentasse fugir da Alemanha Oriental. Houve ainda 21 mortes relacionadas com o regime de fronteira da RDA, mas estas ocorreram por fuzilamento em Moscovo, «capital» do bloco soviético.
O historiador Jan Kostka explica que as autoridades da Alemanha Oriental não costumavam fazer registo das pessoas mortas na fronteira. Pelo contrário, procuravam esconder esses abates e a polícia secreta da RDA (STASI) obrigava as respectivas famílias a guardar silêncio.
Finalmente, na noite de 9 para 10 de Novembro de 1989, caiu o fruto podre do comunismo. Completamente desacreditado pela opressão e pela calamidade económica, o regime da RDA não resistiu à onda dos protestos que foram eclodindo em diversos países aprisionados por detrás da «Cortina de Ferro». Nessa noite, o tristemente simbólico Muro da Vergonha foi derrubado e a Alemanha foi reunificada.