O armistício que pôs fim aos quatro anos de matança da Primeira Guerra Mundial foi assinado a 11 de Novembro de 1918 entre a Alemanha e os Aliados. Porém, o sofrimento das populações não ficou por ali. Logo a seguir surgiu a ideologia fascista na Itália, depois o Nazismo e as convulsões sociais na Alemanha, até se chegar a uma nova Guerra Mundial, em 1938-39. Tudo isso apenas no espaço de 20 anos.
Até meados de 1918, as tropas alemãs tinham avançado na frente ocidental, ganhando muito terreno. No entanto, entre Março e Julho, o seu contingente decresceu de 5,1 para 4,2 milhões de homens. Embora tenha conseguido tapar as suas lacunas até ao Verão de 1918, o Império Alemão viu-se na contingência de remobilizar soldados feridos e recém-recuperados, enquanto incorporava também novos recrutas nascidos no ano de 1900.
Contudo, havia agora um problema para os alemães: a chegada das tropas americanas. Depois que o presidente Wilson declarou guerra à Alemanha, em 2 Abril de 1917, os seus soldados começaram a atravessar o Oceano Atlântico, chegando a um ritmo de 10 mil por dia, no início do Outono de 1918.
O historiador John Keegan admite que os jovens soldados americanos eram inexperientes no combate mas recorda que foi «decisivo» e «profundamente deprimente» «o efeito que a sua chegada teve sobre o adversário».
No fim das contas, foram as bem equipadas unidades dos Estados Unidos que decidiriam a guerra a favor dos Aliados. Os supremos comandantes das tropas alemãs desde logo tiveram de aceitar que não era mais possível vencer o conflito e que só um armistício evitaria o colapso total.
Enquanto as tropas alemãs rareavam progressivamente, o comando supremo apontava as responsabilidades ao poder político, conforme escreveu o general Erich Ludendorff ao Kaiser, em 19 de Setembro de 1918: «Pedi a Vossa Majestade para colocar no governo também aqueles círculos a que principalmente devemos a situação em que estamos. Portanto, agora veremos se esses senhores assumirão os ministérios. Agora eles que tratem da paz que tiver de ser tratada. Eles que tomem a sopa que prepararam para nós.»
Para Ludendorff, «esses senhores» eram as bancadas do Parlamento que, já em meados de 1917, tinham traiçoeiramente pleiteado um acordo entre sociais-democratas, liberais de esquerda e católicos do Partido Centrista Alemão.
Inicialmente, o armistício de 11 de Novembro trouxe alívio a milhões de europeus que ansiavam pelo fim da guerra. Não significou porém, o fim de todos os sofrimentos: privações, dificuldades, vicissitudes e luto continuaram a pesar sobre as nações mais envolvidas. Principalmente entre os alemães dominava a sensação de terem lutado e sofrido em vão.
«A falta de sentido, ao atingir o seu ponto mais alto, é raiva, raiva e raiva, continuando a não fazer sentido», conforme resumiu o escritor austro-húngaro, Walter Serner, descrevendo a cólera dos seus compatriotas. Esse sentimento tomou conta dos alemães e seria solo fértil para a ascensão de um ex-soldado austríaco chamado Adolf Hitler…
Luís de Magalhães Taveiro