Estava-se no ano de 1792, com a França ainda em pleno processo revolucionário (desde 1789) e em guerra com a Prússia.
O exército deste país, comandado pelo rei Frederico Guilherme II e pelo duque de Brunswick deparou-se com as tropas francesas no planalto de Valmy, em 20 de Setembro desse ano. Eram 160 mil homens do lado prussiano e 95 mil do lado francês, sob o comando dos generais Dumouriez e Kellerman. Enquanto o exército prussiano era formado por soldados profissionais, o francês era apenas composto por recrutas mal equipados e sem experiência em combate.
Quando ia começar a travar-se batalha sucedeu, para surpresa geral, que os prussianos se detiveram antes mesmo de ter enfrentado as fileiras do contingente revolucionário francês. Por que haveria o rei da Prússia de retirar as suas tropas do combate quando tinha nas mãos todas as probabilidades de vitória?
O próprio Napoleão chegou a dizer que essa súbita suspensão constituía para ele um insolúvel enigma.
Em 1839, porém, «Le journal des villes et des campagnes» parece ter desfeito o nó górdio da questão.
Segue o relato desse jornal:
«A 15 ou 16 de setembro de 1792, houve uma espécie de soirée de gala promovida por Frederico Guilherme II, rei da Prússia, com a presença de oficiais do exército e de emigrados franceses. Nesse ínterim, um homem vestido de preto aproximou-se do soberano alemão e confidenciou-lhe ao ouvido a senha dos Rosacruz (sociedade secreta criada no século XV) da qual ele era membro. Sem dizer nada, o rei acompanhou o homem que o conduziu a uma sala coberta de tecidos negros, deixando-o ali sozinho.
«Cabe aqui esclarecer que Frederico Guilherme acreditava em aparições de almas do outro mundo e em feitiçaria. Por isso, achou normal que lhe aparecesse o fantasma do seu tio, Frederico o Grande da Prússia. O fantasma conversou então longamente com ele, aconselhando-o também a retirar as tropas do campo de batalha. E assim, no dia seguinte, o exército da Prússia recebeu ordem para se retirar.»
Salta à vista que Frederico Guilherme foi vítima de uma artimanha. Com efeito, alguns anos antes da Revolução, um comediante francês de nome Fleury tinha representado Frederico da Prússia de forma exímia, imitando-o na perfeição e falando fluentemente o alemão.
Presume-se, pois, que tenha sido contratado para esse papel de «fantasma» e para causar impressão na mente sugestionável do soberano da Prússia.
Fonte: G. LENOTRE : «La victoire de Valmy, est-elle due à un fantôme?» Journal des Villes et des Campagnes, 1839.