Organização católica para a paz condena escravização sexual de cristãos moçambicanos

Agnes Aineah, para CNA
ACI África, 21 de Setembro de 2023 (CNA)
De Moçambique surgiram relatos de jihadistas islâmicos que operam naquele país e compulsoriamente «convertem» mulheres cristãs, muitas delas raptadas para servirem como escravas sexuais.
Numa entrevista à ACI África, parceira de notícias da CNA naquele continente, o director do Instituto da Paz, Denis Hurley, confirmou relatos de uma circular interna que terá vazado do Estado Islâmico, aconselhando os combatentes desse grupo a matar quem se recusa a converter-se ao Islão.
«Pelas pessoas de Cabo Delgado, confirmamos que é verdade: os combatentes estão a servir-se de mulheres cristãs como objectos sexuais e a forçá-las se “converterem” ao Islão», disse Johan Viljoen numa entrevista dada a 20 de Setembro.
«Condenamos qualquer tentativa de forçar as pessoas a mudarem de religião», acrescentou Viljoen. «Condenamos os islamitas por forçarem as mulheres à escravatura sexual. É uma violação flagrante dos direitos humanos.»
A referida circular interna do Estado Islâmico, relatada por Cabo Ligado, mostra o grupo terrorista aconselhando os seus membros a realizarem exames médicos às mulheres escravizadas não virgens antes de as distribuir pelos combatentes, mas matam aquelas que se recusam a converter-se ao Islão. Essa recomendação baseia-se em alegações de que as mulheres raptadas estão a infectar os combatentes do Estado Islâmico com a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA).
«As mulheres capturadas, com SIDA e convertidas, podem ser libertadas mediante pagamento de resgate ou mortas no caso de se recusarem a tornar-se muçulmanas», diz a circular. «Aquelas que se converterem ao Islão e não forem portadoras da doença, podem ser dadas [aos membros do EI].»
O documento observa que todas as mulheres não virgens devem fazer testes antes de serem entregues como escravas aos membros do EI.
Homens armados pertencentes ao Estado Islâmico – conhecido como Al Shabaab em Moçambique – têm atacado civis inocentes, principalmente cristãos, desde 2017.
O conflito também decorreu de disparidades socio-económicas gritantes entre o nível de vida em Maputo (capital de Moçambique) e o norte marginalizado, especialmente Cabo Delgado, onde se concentram os combates.
Os terroristas também fizeram incursões nas províncias vizinhas de Nampula e Niassa, onde continuam a atacar civis. No último ataque, 11 cristãos foram separados da população muçulmana na província de Cabo Delgado e depois executados.
Os relatórios indicam que mais de 800.000 pessoas nestas províncias moçambicanas ainda estão deslocadas, apesar do regresso de alguns civis e de uma forte presença militar.
Esta história foi publicada pela primeira vez pela ACI África (parceira de notícias da CNA naquele continente) e adaptada pela CAN.

Grupo de mulheres e crianças sob protecção militar em Mucimba da Praia, na província de Cabo Delgado (Moçambique, Setembro de 2023). (Foto: Denis Hurley Peace Institute)
Fonte: Catholic World Report