A teologia e a piedade cristã na Idade Média puseram em relevo a Paixão de Cristo e a compaixão de Maria Santíssima, o Homem das dores e a Dolorosa. O «Stabat Mater», de Jacopone da Todi (Tiago de Todi, 1230-1306) é o exemplo mais notável disso. A lírica intensidade desse pranto comoveu gerações inteiras no devoto exercício da Via-Sacra.
A devoção a Nossa Senhora das Dores simbolicamente fixou em sete as dores da co-redentora, segundo outros tantos episódios narrados no Evangelho: a profecia do velho Simeão (uma espada te trespassará a alma); a fuga para o Egipto; a perda de Jesus aos 12 anos, durante a peregrinação a Jerusalém; a caminhada de Jesus até o Gólgota; a crucifixão; a deposição na cruz e o sepultamento.
A Ordem dos Servos de Maria, que inicialmente tinha como nome Companhia de Maria Dolorosa, obteve em 1667 a aprovação das celebrações litúrgicas das Sete Dores de Maria, que Pio VII inseriu no calendário romano, colocando-as no terceiro domingo de Setembro. Mais tarde, São Pio X fixou a data em 15 de Setembro.
«Escutemos a voz lamentosa da Virgem Mãe; detenhamos a nossa atenção sobre a sua forte dor e veremos que não há dor semelhante à dela, exceptuada a do Filho, que é semelhante à dor da Mãe. Porque era Ela toda tomada por uma muito admirável e incrível compaixão, a ponto de as nossas palavras serem incapazes de exprimir, pois sobre a sua própria pessoa já passavam as dores e os opróbrios do Filho. Ela provava em si aquilo que experimentava Jesus. Ela estava lá, presente e próxima, participando do martírio, das feridas, da cruz de Jesus; juntamente com Ele, Ela era trespassada pela espada porque a espada da Paixão de Cristo trespassou a sua alma pura. Empalidecia a puríssima em sua beleza, que esmaecia, porque n’Ela se via projectada a figura do corpo de seu Filho (São Boaventura, Dom. infra Oct. Epiph., Sermo 1, 2).»
Luís de Magalhães Taveiro