No ano de 1540 a Europa encontrava-se dividida e agitada em razão da pseudo-reforma protestante. Foi nessa época que apareceu a Companhia de Jesus, apresentando-se desde logo como baluarte em defesa do Papado e contra a insurreição luterana.
A sua origem deve-se ao providencial encontro de três jovens que partilhavam o mesmo quarto no Colégio de Navarra: Inácio de Loyola (basco), Francisco Xavier e Pierre Favre. Congregando outros estudantes e inspirados pelos Exercícios Espirituais do futuro Santo Inácio de Loyola, decidiram consagrar a vida a Nosso Senhor Jesus Cristo mediante a criação de nova ordem religiosa que veio a ser aprovada no dia 27 de Setembro de 1540 pelo Papa Paulo III: foi a Companhia de Jesus, cuja principal missão consistia em combater o avanço do protestantismo na Europa e promover a difusão do Catolicismo até aos confins da Terra.
Como é sabido, a evangelização da Companhia de Jesus chegou ao Japão e à China, mas a sua acção foi mais marcante no Brasil, devido à proximidade desse grande território. Com efeito, os jesuítas chegaram ali em 1549, apenas nove anos após a criação da Companhia. O primeiro grupo de missionários desembarcou na Bahia, então governada por Tomé de Souza, e era liderado pelo Padre Manuel da Nóbrega, homem de grande virtude, administrador e diplomata exímio. A ele se juntaram mais jesuítas, dedicando-se de corpo e alma à evangelização do Brasil, até com sacrifício das suas próprias vidas, como foi o caso do Beato Inácio de Azevedo e dos seus 40 companheiros, martirizados por corsários calvinistas franceses em 1570 ou de outros 12, assassinados por ingleses e franceses em 1571.
Naqueles tempos difíceis, os Jesuítas foram desbravadores de sertões, pacificadores de tribos indígenas, construtores de fortalezas, colégios e aldeamentos para os índios. Criaram o primeiro teatro do Brasil e lançaram os fundamentos da medicina e da arquitectura naquele país. Preservaram as línguas indígenas e fizeram crónica de tudo quanto ocorria naquele imenso território, como era o caso do Padre Fernão Cardim. Também ali se distinguiu o célebre Padre António Vieira, um dos grandes expoentes da Língua Portuguesa e notável orador, diplomata e missionário.
O Padre Serafim Leite, insigne historiador jesuíta, descreve assim os primeiros tempos da acção da Companhia de Jesus no Brasil: «Se os colonos e administradores portugueses governavam a terra e a cultura como fonte de riqueza e elemento de soberania, os jesuítas da Assistência de Portugal amavam a terra e os seres humanos que essa terra alimentara no decorrer dos séculos. Os primeiros apoderaram-se do corpo, fazendo nascer o Brasil. Enquanto os Governadores, Capitães e funcionários iam estabelecendo as bases do Estado, o elemento religioso alicerçava o nosso edifício com formas tão elevadas e nobres, que dariam ao conjunto a solidez da Eternidade».
Luís de Magalhães Taveiro