Armando Alexandre dos Santos
Em Portugal, trava-se no momento presente grande polêmica sobre a introdução da eutanásia na legislação do país. A maioria esmagadora da população, conservadora e de princípios cristãos, é contrária à medida, que o parlamento, por imitação servil da vizinha Espanha, aprovou há poucos dias. Agora a lei vai depender da aprovação ou do veto do Presidente da República. Ele não somente pode, mas deve vetá-la, se for fiel à sua convicção pessoal de católico e às esperanças que despertou durante recente campanha eleitoral em que, precisamente por suas posições conservadoras e cristãs, foi reeleito.
Não é lá muito democrático impor leis sabidamente antipopulares por mera votação parlamentar, menos ainda por decisões do STF, como se tem feito aqui no Brasil no tocante à ampliação dos casos permitidos de aborto.
O correto, de acordo com os postulados democráticos, seria consultar diretamente o eleitorado, mas os próprios defensores da eutanásia, em Portugal, e os do aborto, no Brasil, não querem saber de plebiscitos ou referendos nessas matérias. Por quê? Porque sabem muito bem que se for consultado o eleitorado, que na sua maioria esmagadora é conservador e de princípios cristãos tanto no Brasil como na mãe-Pátria lusa, a eutanásia jamais seria aceita em Portugal e o aborto jamais encontraria acolhida no Brasil. Daí preferirem fazer a introdução apenas pela via parlamentar ou pela do assim chamado “ativismo judicial”.
Os partidários da eutanásia, em Portugal, se indignam quando designados como “eutanasistas”, porque, dizem eles, tal designação é pejorativa e insultante, uma vez que remete os espíritos ao Nazismo – regime odioso e odiento que, entre outras muitas barbaridades, também defendia e praticava a eutanásia.
Será realmente inadequada a designação de eutanasista, para quem defende a eutanásia? Não me parece. Em bom português, pode-se perfeitamente usar a palavra eutanasista – formada pela aposição, ao radical eutanas-, do sufixo ista, herdado remotamente do grego pela via latina, que exprime a ideia de adesão, concordância, filiação ou entusiasmo por algo ou alguém (por exemplo, marxista, ecologista, abortista, bolsonarista, grevista, anarquista, budista), como também pode exprimir uma situação ou profissão (quartanista, finalista, jornalista, jurista, lojista, copista), uma área de conhecimento, estudo ou especialização (medievalista, camonista, brasilianista, otorrinonaringologista), uma proveniência geográfica (nortista, sulista, paulista), uma tendência (otimista, pessimista, trocista, altruísta) etc.
Eutanasista e eutanazista são palavras homófonas, ou seja, se pronunciam da mesma forma. O S e o Z, aliás, são duas letras muitas vezes intercambiáveis em numerosas situações, na prática diária do nosso idioma. Como regra geral, o S no meio de uma palavra tem som de Z quando precedido de uma vogal e seguido de outra vogal, como em casa, riso, piso. E tem som de S sibilante quando precedido de consoante e seguido de vogal, como em cansar, persa, mansidão. Mas são numerosas as exceções a essa regra, sedimentadas e consolidadas pela prática. Por exemplo, transe, transição e transeunte têm pronúncia de tranze, tranzição e tranzeunte; subsídio cada vez mais se pronuncia subzídio (apesar de os puristas ainda preferirem a forma subcídio), rapsódia, obséquio e subsistência soam como rapzódia, obzéquio, subzistência.
Compreende-se que os eutanasistas tenham muito boas razões para não quererem ser confundidos com os nazistas… Mas, se fazem tanta questão de evitarem essa confusão, melhor seria não defenderem ideias nazistas. Não é só a homofonia que produz confusão. É também a ideologia.
Tradução do documento apresentado na imagem acima:
Berlim, 1 de Setembro de 1939
O Reichsleiter Bouhler e o Doutor Brandt ficam incumbidos de alargar a autoridade de certos médicos, a serem designados pelo nome, de forma a permitir que as pessoas consideradas incuráveis por julgamento humano, possam, mediante rigoroso diagnóstico do seu estado de saúde, receber uma morte misericordiosa.
[Assinado] A. Hitler