Dom Sebastião nasceu a 20 de Janeiro de 1554 e tornou-se rei com apenas 3 anos de idade, sendo cognominado «O Desejado» porque o seu pai já tinha falecido quando ele nasceu e porque depois do seu trágico desaparecimento em combate se tornou ainda mais desejado.
Assumiu o trono em 1568, aos 14 anos de idade, tendo morrido heroicamente na batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, à frente de seu exército, no dia 4 de Agosto de 1578.
Era um rei guerreiro, um príncipe revestido do espírito da Cavalaria Medieval, mas acima de tudo santo e casto. Assim o descreve Antero de Figueiredo (*):
A sua alma cada vez mais se esmaltava de intenções formosas e o seu corpo vestia-se de castidade. Pudibundo em extremo, apenas permitia ao seu camareiro que lhe vestisse a roupa de fora. Não deixava que nenhuma dama lhe tocasse e quando passeava a cavalo pela Rua Nova, ou pelas betesgas da velha e mourisca Lisboa, jamais levantava os olhos para as donzelas que chegavam às ventanas ou curiosamente espreitavam por detrás das verdes adufas árabes.
Era que seu espírito, vivendo exclusivamente para o catolicismo e para a guerra, queria servir estas ideias com alma pura e corpo casto.
Uma manhã, na igreja de São Roque, confessado e comungado, recolheu-se todo em si, a cabeça inclinada para o peito, em profunda absorção. Depois, ergueu a fronte, pôs firme os olhos num crucifixo alto, e, entre grossas lágrimas, rogou com a alma inteira:
– Senhor, Vós que a tantos príncipes haveis concedido impérios e monarquias, concedei-me ser vosso capitão!
Eram três as suas orações diárias:
– Que Deus o inflamasse no zelo da Fé que ele queria propagar pelo mundo.
– Que Deus o tornasse um ardido guerreiro.
– Que Deus o conservasse casto.
Ser Casto!
Para ele, a castidade era uma graça física que o tornava forte, uma fortaleza que o fazia ledo. A castidade dilatava-lhe a alma, amando a todos – ao reino, à grei. Era uma pureza que, vivendo em si, marcava conceito nobre em todos os seus propósitos, lhe punha frescura no olhar e lhe brunia as faces com sorrisos brancos. Ser casto era vestir um arnês de candura.
(*) Antero de Figueiredo, «D. Sebastião, Rei de Portugal», Livraria Bertrand, Lisboa, 1943, págs. 96-97