Das salas do Sínodo ninguém nota a fuga dos fiéis

11 Abril 2025

Sala Paulo VI, Vaticano. Foi neste estranho espaço, conhecido pela sua «cara de serpente», que a recente Assembleia Sinodal se reuniu para constatar o fracasso dos seus objectivos, claramente revelado pelo desinteresse das dioceses italianas e pela sondagem de Pew Research Center.

Luisella Scrosati

Os dados do recente inquérito do Pew Research Center, um dos principais centros americanos de sondagem e investigação sobre demografia e questões sociais, mostram a taxa de abandono da religião e apontam o dedo à Igreja na Itália (ver aqui o comentário de Sandro Magister). Em Itália, por cada pessoa que abraça a fé cristã, 28,4 abandonam-na. Um rácio assustadoramente negativo. E dizer «fé cristã» na Itália, significa essencialmente falar de Catolicismo. Nada pior. Mesmo a Alemanha das derivas sinodais, segunda depois da Itália, vê uma relação «mais feliz», de 1 para 19,7, número que deve, no entanto, ter em conta a elevada percentagem de cristãos educados no protestantismo e que poderia, por isso, reduzir o impacto naquela que é considerada uma das Igrejas mais disformes do Velho Continente.

A percentagem mais elevada de desistências, 44%, diz respeito à faixa etária dos 18 aos 34 anos, ou seja, àquele mundo juvenil que os nossos bispos tentaram atingir com tal obsessão que arrastaram a Igreja para uma «jovialidade» frágil e insípida, que acabou por afastar aqueles que procuravam coisas sérias, dignas dos homens. E não é por acaso que é precisamente no segmento mais instruído da população que se encontra a maior incidência (33%) de abandono. Depois de anos em que a dimensão cultural da fé que forjou povos inteiros foi subestimada e ridicularizada, os mais instruídos abandonaram-na. O desastre esteve debaixo dos olhos de todos durante décadas, mas agora são precisamente as estatísticas ansiosamente almejadas pela CEI [Conferência Episcopal Italiana] e pelos seus gabinetes que decretam o fracasso, segundo os critérios da tão amada ciência dos números.

Aos filhos que abandonam a casa paterna, para os quais existe pelo menos a esperança de regressar depois de terem dissipado os seus bens com prostitutas (direitos de autor do Evangelho de Lucas), juntam-se as serpentes amamentadas no seio e embaladas com carinho, que agora mordem a própria mãe. Foi o que aconteceu na recente segunda Assembleia Sinodal [31 de Março a 3 de Abril de 2025], onde os bispos tiveram de se curvar perante o laicado que tanto elogiaram e «promoveram» e que constitui o grupo mais numeroso do Sínodo (442 contra apenas 176 bispos).

Um participante na Assembleia testemunhou-nos que se tratava de uma manifestação flagrante de uma Igreja decapitada e que não tem mais nada de católico a dizer. A parte de leão coube sobretudo aos representantes das Comunidades de Base, à Comunidade de Santo Egídio e aos vários delegados que, em vez de representarem verdadeiramente a diocese, se fazem passar pelos chamados «leigos activos», esse contingente de leigos tão frustrados que pedem asilo permanente nos gabinetes diocesanos. E que querem afastar os padres, clamando por mais espaço, mais responsabilidade, por exemplo, exigindo conselhos pastorais deliberativos e não apenas consultivos. «O nível de preparação teológica é praticamente nulo», confirma a nossa fonte; «a assembleia sinodal transformou-se numa reunião de condomínio onde se luta pelas próprias ideologias».

A insistência e a visibilidade dos grupos «católicos» LGBT+ mostram que o Sínodo não parece preocupar-se com os verdadeiros problemas da Igreja e dos homens, cada vez mais desesperados, cada vez mais vítimas de todas as modas culturais que os arrastam para cá e para lá, para depois serem deixados nus, espancados e famintos, como o homem no caminho de Jerusalém para Jericó. E foi assim que se deu destaque a Rosario Lo Negro, o ex-seminarista que andou a queixar-se a vários jornais italianos acusando o Seminário de até querer «curá-lo» da sua homossexualidade. E que gosta de andar por aí a ser fotografado sem camisa, com um coração pintado de arco-íris e a inscrição provocadora: «O nosso coração também é sagrado».

Para que servem estes sínodos permanentes? Para dar espaço a grupos de pressão, com os bispos essencialmente mudos para ouvir, para barafustarem perante uma Assembleia que deveria estar à escuta do Espírito e que, em vez disso, se vê a contestar, a exigir «aberturas», como se estivéssem numa reunião sindical. Monsenhor Erio Castellucci, com os bispos encurralados, tentou livrar-se de problemas, tranquilizando os leigos prestáveis de que se tratava de avançar e não de traçar linhas sobre o que tinha sido feito. O Cardeal Zuppi prometeu um texto «mais maduro» que daria mais espaço às «pessoas em situações afectivas especiais» e uma maior responsabilidade às mulheres na Igreja.

O facto de o Sínodo ser mais uma dança fechada à volta do bezerro de ouro é também demonstrado por outro facto interessante que ainda não foi revelado. As dioceses deveriam dar respostas/propostas sobre cada um dos dezassete temas a discutir na assembleia, a fim de se chegar a um documento final representativo. Mas as dioceses, 226 em Itália, estavam praticamente ausentes. O tema que recebeu mais respostas, o da «renovação dos caminhos de iniciação cristã», registou apenas 63 formulários recebidos, o que significa que apenas uma diocese em cada quatro respondeu. Um outro tema sinodal, o do «desenvolvimento humano integral e o cuidado da casa comum», teve apenas 29 dioceses a responder, uma em cada dez! Pior ainda para a «responsabilidade eclesial e pastoral das mulheres», um dos temas quentes da Assembleia, apenas 17 boletins foram recebidos. Se já é legítimo duvidar que as respostas das dioceses sejam representativas do mundo católico real, uma vez que a maioria do povo de Deus, aquele que vai à igreja, que reza, faz peregrinações e acende velas, nem sequer sabe que existe um sínodo concebido pelo aparelho burocrático eclesial para – dizem – lhes dar voz, quando nem sequer as dioceses respondem.

Estes sínodos acabam por não ser mais do que montras para pessoas e grupos que não servem a Igreja, que a utilizam para fazer avançar agendas que nada têm de católicas, e que estão ao serviço de ideologias e de poderes influentes. Tudo isto é feito com o dinheiro que os fiéis pagam à Igreja Católica na Itália para aquilo que deveria ser a sua missão: construir e cuidar dos lugares de culto, apoiar o clero, apoiar as missões, ajudar os pobres. Dinheiro – e imaginamos que não seja pouco – que, em vez disso, é deitado fora para dar lugar a frustrações e reivindicações. A Igreja não precisa destes amontoados de sabor anárquico para saber quais são as verdadeiras necessidades das pessoas: basta que os padres estejam nos confessionários; basta ir aos santuários onde os homens apresentam a Deus os seus problemas mais comuns: a ansiedade pela saúde dos seus entes queridos, a preocupação com os filhos que abandonaram o caminho ou as lágrimas pelas dores e agruras da vida. Bastar-lhes-ia pegar nas Escrituras e no Catecismo para compreenderem que os homens têm sempre necessidade das mesmas coisas: conversão, vida sacramental, instrução religiosa.

NR: A tradução desta matéria e os destaques gráficos são da responsabilidade da nossa Redacção.
Fonte: La Nuova Bussola Quotidiana, 8 de Abril de 2025

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