Foi no fim da tarde de 14 de Agosto de 1385 que se travou a Batalha de Aljubarrota, um acontecimento que marcou a viragem na crise que assolava Portugal desde 1383, motivada pelo facto de D. Juan I de Castela considerar que tinha direito ao trono português.
O desenrolar da Batalha
Na historiografia há várias versões que chegaram aos nossos dias descrevendo o desenrolar desta batalha. Algumas são um pouco fantasiosas, mas há um ponto em que todas concordam: o número de castelhanos e franceses envolvidos era muito superior ao dos portugueses e seus aliados ingleses.
Reunindo todas as versões e expurgando-as de alguns pontos contraditórios, tentaremos descrever como esta contenda se terá efectivamente desenrolado.
D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, já tinha conquistado algumas praças que, até aí se haviam colocado ao lado do rei de Castela.
Nos últimos dias de Julho de 1385 ele reorganizou em Abrantes o exército português, reunindo forças oriundas de diversas zonas do país, incluindo-se nelas o Mestre de Avis.
Algumas divergências surgiram sobre a melhor táctica a ser usada para enfrentar o exército inimigo.
Superando todas as dúvidas, D. Nuno Álvares Pereira decidiu passar à acção avançando com as suas forças em direcção a Tomar, seguindo depois para Atouguia (concelho de Ourém) e chegando a Porto de Mós no dia 12 de Agosto, pela estrada que liga Leiria a Alcobaça e por onde já caminhavam as forças castelhanas.
No dia seguinte, o Condestável procurou um local onde pudesse interceptar o exército castelhano, tendo optado por um terreno planáltico, a sul da ribeira de Calvaria. Este terreno tinha acessos difíceis, limitando a frente de ataque do inimigo e possibilitando o contra-ataque dos portugueses pelos flancos, sob a protecção de dois ribeiros que por ali corriam.
Do lado de Castela, a cavalaria pesada seria constituída por cerca de 5000 lanças e a cavalaria ligeira por 2000 ginetes, de acordo com algumas fontes. Teria ainda 8000 besteiros e 15.000 peões. Do lado português haveria apenas 1700 lanças, 800 besteiros, 300 arqueiros ingleses e 4000 peões.
A posição estratégica dos portugueses não passou despercebida aos castelhanos. Apesar de estarem em maior número, tentaram evitar o confronto, seguindo por um caminho secundário em direcção a Calvaria. O exército português passou a deslocar-se paralelamente aos castelhanos, acabando as duas forças por ficar a 350 metros de distância uma da outra.
Com rapidez, os portugueses cavaram no terreno uma série de fossos e covas de lobo que eram formadas por um buraco cónico invertido, com cerca de dois metros de profundidade e com uma estaca pontiaguda no fundo, apontada para cima. Estas defesas foram dissimuladas com terra e arbustos rasteiros.
O exército português dispôs-se em quadrado com alas na vanguarda. Na frente da formação estavam 600 lanceiros comandados pelo Condestável, constituindo a primeira força de impacto. Na retaguarda, sob o comando do Mestre de Avis (D. João I), estavam posicionados os besteiros, 700 lanças e 2000 peões. As alas do quadrado eram constituídas por outros efectivos, nomeadamente por combatentes muito jovens que ficaram celebrizados na História de Portugal como «Ala dos Namorados».
A vanguarda castelhana hesitou em enfrentar os portugueses, apesar de as suas forças ocuparem toda a largura do planalto, com um efectivo composto por 50 bombardas e 1500 lanças posicionadas em quatro filas, segundo indicam algumas fontes. Tinham, além disso, um elevado número de lanceiros, besteiros, peões, ginetes e cavaleiros franceses.
Ao fim do dia, a vanguarda castelhana decidiu iniciar o combate.
A configuração do terreno entre as duas forças, conjugada com as armadilhas montadas pelos portugueses, obrigou as forças castelhanas a afunilar a sua frente de combate, passando-a para meros 60 a 70 metros. As sucessivas investidas dos castelhanos conseguiram gradualmente penetrar pela vanguarda do quadrado, mas foram atacadas nos flancos e dizimadas pelos portugueses.
A batalha prosseguiu durante mais uma hora, até que o número de castelhanos a combater começou a diminuir, culminando com a sua total derrota e dispersão.
A vitória de Aljubarrota foi determinante para a História de Portugal. Foi ela que abriu caminho à Dinastia de Avis, à Ínclita Geração, à conquista de Ceuta, a toda a Epopeia dos Descobrimentos e à Evangelização dos povos mais remotos.
Rodrigo P. de Almeida Carvalhais