Alcácer-Quibir e o Sebastianismo

4 Agosto 2022

El-Rei D. Sebastião, o Desejado

«Provasse com muitos Vatecinios e Professias q o Rey D. Sebastiaõ ainda vive, e hade vir de novo reinar em Portugal» (*)

4 de Agosto de 1578: El-Rei D. Sebastião desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir, depois de ter combatido com inexcedível bravura.

Por instantes, a batalha esteve praticamente ganha pelos portugueses, mas um misterioso brado — “Ter! Ter!” — claramente ouvido na nossa vanguarda, virou subitamente o curso dos acontecimentos e aquela que poderia ter sido a mais estupenda vitória lusa em terras de Além-Mar, tornou-se desde logo um desastre para o Reino.

Não obstante, Alcácer-Quibir ficou na memória do povo como o campo de batalha da Honra, da Cruzada, do Heroísmo e do Martírio. E bem no alto de tudo isso, destaca-se a figura do jovem Rei, idealista e puro, que passou para a História como “O Desejado“.

Nunca o povo lhe guardou rancor pelo desastre de Alcácer-Quibir. Pelo contrário, sempre o recordou como um filho dilecto da Nação, tragicamente perdido, mas que um dia haveria de voltar para “se cumprir Portugal”.

Essa esperança no regresso de El-Rei chama-se SEBASTIANISMO, como é sabido, e até hoje ela toca a alma de qualquer bom português porque é ao mesmo tempo uma saudade do passado e uma confiança num futuro melhor.

No dia 4 de Agosto, portanto, elevemos por um momento os nossos olhos ao Céu e peçamos à Rainha da Esperança – Nossa Senhora de Fátima — que nos traga o fruto consolador do sangue que os Heróis e Mártires de Alcácer-Quibir certamente não derramaram em vão.

E para melhor meditarmos sobre isto, aqui vai a transcrição de um interessante manuscrito do séc. XVIII, publicado pela primeira vez em 1947:

Prova-se com muitos Vaticínios e Profecias que o Rei D. Sebastião ainda vive e há de vir de novo reinar em Portugal.

As profecias propriamente ditas, por serem luzes do Espírito Santo, disputam os Teólogos o modo como Deus pode mostrar que são Suas. As que a Igreja definiu como tais, são matéria de Fé; e as que não têm tão autêntico testemunho, tão qualificadas podem ser por outras razões que será temerária impiedade julgá-las por falsas.

No que respeita à vinda de D. Sebastião há muitos vaticínios, os quais, ainda que não estejam aprovados pela Igreja, nem claramente conhecidos como profecias, propriamente são tais e muitas qualificadas por algumas razões. Logo pode dizer-se que é temeridade julgar os vaticínios absolutamente falsos. Destes vaticínios, uns foram antecedentes à perda e ainda ao nascimento do Rei D. Sebastião. Outros datam dos tempos que Ele esteve neste Reino, antes de passar à África, e outros depois. Os que foram antecedentes não o nomeiam por seu nome, mas trazem tais circunstâncias que só a Ele podem aplicar-se. Os que foram contemporâneos com Ele, ou depois da perda, alguns o apontarão com o dedo e outros o nominarão claramente.

Primeiramente é profecia conforme de muitos Santos que há de haver uma reforma na Igreja de Deus com a qual há de ficar. Que os Mouros e Turcos hão de ser desbaratados; a Terra Santa recuperada pelos Cristãos e que em toda a parte se há de gozar de grande união, paz e felicidade, principalmente em Portugal.

[…] São Teófilo, Bispo, depois de contar vários sucessos do Mundo na Profecia que começa [com] «Dum summum Imperium occupabitur», diz que «um Rei desconhecido dos homens, santo diante de Deus, reputado por morto e não esperado para reinar, havia [de] recuperar os Reinos perdidos, sujeitar o Grão Turco e restituir aos Cristãos a Casa Santa.»

Fonte: «SOBRE O SEBASTIANISMO – Um curiosos documento do começo do Século XVIII», editado por A. Monteiro da Fonseca, Coimbra Editora Lda., 1959, págs. 49-50.
A adaptação da ortografia para o português actual é da responsabilidade da nossa Redacção.

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