Desde as primeiras eleições realizadas após a revolução de 1974, ficou claro que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não quis entrar em conflito com os novos governantes. E estes, apercebendo-se dos erros crassos cometidos no passado pelos seus antecessores, lamentaram os exageros e perseguições feitos à Igreja pelo jacobinismo republicano de 1910. Especialmente os dirigentes do recém-criado Partido Socialista, trataram também de entrar numa «entente cordiale» com as autoridades eclesiásticas. E assim se deu início a um compromisso tácito entre clero católico e socialismo marxista. Compromisso que dura até hoje…
É verdade que, de um lado e de outro, houve sempre quem não seguisse este alinhamento. Do lado católico, vários padres e um ou outro bispo, sem fazerem oposição ostensiva, foram advertindo contra os erros do socialismo para orientar o voto dos católicos. Mas nada disto foi formalizado, ou seja, nunca as autoridades eclesiásticas publicaram um guia de orientação para o voto católico. Deste modo, o voto dos católicos começou a entrar em partidos cujas ideologias iam desde o agnóstico e anti-família até à democracia cristã ou à social-democracia nórdica e suas variantes.
Quem for às missas dominicais da grande maioria das igrejas de Portugal, em véspera de eleições, dificilmente irá ouvir de um sacerdote alguma orientação categórica para o voto católico, pela Família e pela Vida, contra o aborto, contra a eutanásia e contra a imposição da ideologia de género nas nossas escolas. Já houve bispos e padres que assumiram posições correctas nesse sentido, nomeadamente contra as recentes tentativas de legalização da eutanásia. Essas posições, porém, costumam limitar-se a uma espécie de «formalidade oficial», sem carácter militante e sem eco nas paróquias de quase todo o País.
As homilias, com efeito, evitam esses assuntos e são cada vez mais vazias de conteúdo, senão mesmo eivadas de indefinição, relativismo e cumplicidade ou compromisso com o «politicamente correcto». Muitos membros de confrarias ou escuteiros, leitores nas missas e até catequistas, têm filiação ou simpatia partidária socialista, mostrando bem o ponto a que chegou a indefinição, o indeferentismo e a ignorância nos meios católicos.
Desiluda-se, pois, quem pensa que vai ouvir uma homilia anti-liberal, anti-socialista ou anti-comunista. Isto ficou nos tempos pré-ecuménicos. Agora, em fase ecuménica de sentido único, pós-Vaticano II, quem sair da linha de pensamento do regime, leva séria advertência ou coisa pior.
Para aumentar a confusão entre os católicos, acresce que também os presidentes de muitas câmaras e juntas de freguesia, mesmo ostentando o seu agnosticismo, fazem questão de aparecer nas festividades religiosas e mantêm relações de amizade próximas com os párocos.
Considerando as eleições de 30 de Janeiro, como fica então o voto católico?
Os dois principais partidos que se têm alternado e perpetuado no poder – PS e PSD – têm assumido posições geralmente favoráveis ao aborto e à eutanásia. Para um católico coerente, nenhum deles pode ser apoiado. O mesmo vale para quaisquer outros partidos que defendam ideias ou posições contrárias, incompatíveis ou dúbias em relação ao que ensina o Magistério da Igreja Católica.
Assim, se algum partido de orientação socialista ou liberal vier a ganhar as eleições, com ou sem maioria, parece óbvio concluir que para a sua eventual vitória tenha contribuído uma parcela significativa do eleitorado católico.
Perante o incompreensível silêncioda CEP a respeito do que ensina a Doutrina Católica, cabe recordar aqui o que o grande Padre António Vieira afirmou, definindo a omissão «como um pecado que se faz, não fazendo.»
Infelizmente, este panorama não é exclusivo de Portugal. Todo o sul da Europa enfrenta o mesmo problema e as três Américas também, especialmente a Central e a do Sul.
É difícil acreditar que Portugal, país de tradição católica, tenha uma das legislações mais radicais em termos de destruição da Família e de políticas contra a Vida.
Junto ao Trono do Altíssimo, peçamos a intercessão da Santíssima Virgem de Fátima para que ilumine os Portugueses neste grave momento e proteja o País dos erros do comunismo e do socialismo, conforme Ela própria advertiu em 1917.