Em resposta a uma contra-revolução anticomunista o exército soviético invadiu a Hungria no dia 4 de Novembro de 1956.
A revolta começou como uma manifestação estudantil que atraiu milhares de pessoas, marchando todas elas pelo centro de Budapeste, em direcção ao Parlamento. Numa tentativa de transmitir os protestos, houve uma delegação de estudantes que entrou no prédio da Rádio Free Europe, mas foi detida lá dentro. Quando os manifestantes começaram a exigir a libertação dos estudantes, a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) abriu fogo sobre eles de dentro do prédio.
A notícia espalhou-se rapidamente, causando violência e desordem por toda a capital e levando a revolta a todo o país. O governo comunista caiu e milhares de pessoas pegaram em armas para se organizar em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) e as tropas soviéticas. Comunistas pró-soviéticos e membros da ÁVH eram frequentemente executados ou aprisionados, enquanto os antigos prisioneiros anticomunistas eram libertados e armados.
O controlo municipal dos municípios foi retirado ao Partido dos Trabalhadores Húngaros e substituído por conselhos improvisados que exigiram mudanças políticas. O novo governo dissolveu formalmente a polícia política do regime comunista (ÁVH), declarou a sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu o reestabelecimento de eleições livres.
Em fins de Outubro os conflitos quase tinham acabado e já se notava um certo ambiente de normalidade.
Antecedentes da contra-revolução húngara
A economia húngara pós-guerra tinha sofrido muitos reveses. Por alegados danos de guerra, a Hungria teve que pagar aproximadamente 300 milhões de dólares à União Soviética, Checoslováquia e Jugoslávia (todos eles sob regime comunista), comprometendo-se também a apoiar as tropas soviéticas. O Banco Nacional Húngaro em 1946 estimou o custo desses danos «entre 19 e 22 por cento das receitas nacionais anuais». Em 1946, o Pengő, moeda húngara, passou por uma desvalorização que resultou nos mais altos índices de hiper-inflação. A participação da Hungria na COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), impediu-a de fazer comércio com os países do ocidente europeu ou de receber empréstimos através do Plano Marshall.
Apesar de a renda nacional per capita ter crescido no primeiro triénio dos anos 1950, foram-lhe deduzidos investimentos para financiar a indústria e imposta aos cidadãos a compra de obrigações do tesouro estatal. A má gestão destas medidas criou uma crise financeira que provocou a falta de alimentos básicos e o racionamento de pão, açúcar, farinha e carne. Assim, em 1952, a renda real para os trabalhadores e empregados era equivalente a dois terços do que tinha sido em 1938 (antes do início da Guerra). O efeito negativo e acumulado desta crise financeira fez aumentar ainda mais a dívida estrangeira e a escassez de bens.
O descontentamento aumentou ainda mais com a introdução obrigatória da ideologia comunista e do idioma russo no ensino, em todo o país. As escolas religiosas foram nacionalizadas e as autoridades religiosas foram depostas e substituídas. Em 1949 o líder da Igreja Católica Húngara, cardeal József Mindszenty, foi preso e condenado a prisão perpétua por traição. Sob o comando de Rákosi, o governo húngaro era efectivamente um dos mais repressivos da Europa.
Foi deste contexto que surgiu a revolta de 1956. Inicialmente o Kremlin recuou e declarou-se aberto para negociações mas logo mudou de ideias e a 4 de Novembro avançou com uma invasão militar brutal, que ocupou Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara só se manteve até 10 de Novembro, sofrendo mais de 2500 baixas, mas causando 700 mortos ao exército soviético. Duzentos mil húngaros tiveram que fugir do país e entre os que ficaram houve milhares de prisioneiros políticos. Logo em Janeiro do ano seguinte (1957) o governo soviético impôs nova ditadura, acabando radicalmente com toda a oposição pública.
A Hungria, outrora reino pertencente ao Império Austro-Húngaro (até 1918) só voltou a conhecer a liberdade depois de 1989, na sequência da queda do Muro de Berlim (ou «Muro da Vergonha») e do colapso da União Soviética. Em 2004 tornou-se membro da União Europeia.
Luís de Magalhães Taveiro