A guerra na Ucrânia catapultou a Mensagem de Fátima para o centro das discussões   

11 Março 2022

As misteriosas referências da Mãe de Deus, em 1917, à Rússia e aos seus erros são o pano de fundo do balanço de morte e destruição na Ucrânia: «Se atenderem aos Meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas».    
 
Nossa Senhora também falou da conversão final da Rússia depois da consagração da nação ao seu Imaculado Coração. Muitos afirmaram justamente que os erros da Rússia eram os do comunismo. A Rússia espalhou-os, efectivamente, por todo o mundo a partir de 1917.           
 
Uma conversão controversa
 

Desde o colapso da União Soviética, em 1991, porém, começou a circular entre os católicos ocidentais uma opinião errada de que esta era a conversão da Rússia prevista por Nossa Senhora. A narrativa da conversão foi reforçada sob Vladimir Putin.      
 
A narrativa da conversão refere-se à queda do comunismo e às subsequentes tentativas de restaurar um indício de ordem na terra devastada por sete décadas de domínio ateísta. Alguns vêem no aumento da profissão religiosa (embora não da prática) após a Guerra Fria uma espécie de conversão em curso.    
 
Alguns católicos estão demasiado prontos a incluir estes desenvolvimentos na Mensagem de Fátima. Não importa quão pequeno seja um gesto, interpretam-no imediatamente como parte de um processo de conversão. Além disso, estão bastante satisfeitos por verem a Ortodoxia russa, não a Igreja Católica, como o instrumento de Deus nesta conversão. Como se isto não fizesse nenhuma diferença.    
 
Todos estes pontos são objecto de discussão entre aqueles que, no Ocidente, apoiam o que se poderia chamar a narrativa da conversão da Rússia à luz de Fátima. A discussão inclui frequentemente uma contranarrativa, que afirma que também as nações ocidentais decadentes e moralmente corruptas precisam de se converter, talvez mais do que a Rússia. 
 
A narrativa estende-se ainda          
 

O problema com a narrativa da conversão da Rússia é que esta deve ter lugar no âmbito da Mensagem de Fátima. Os acontecimentos devem corresponder à realidade para que se possa acreditar na dita narrativa. Não há espaço para variáveis que utilizem factos distorcidos.       
 
Qualquer situação pode ser adaptada a uma narrativa desde que se assemelhe à trama geral. Não obstante, uma narrativa só pode ser esticada até um certo ponto. Quando os elementos-chave já não cabem, toda a estrutura cai. Este é o caso da narrativa da conversão da Rússia. Estende demasiado as coisas e os factos já não correspondem ao guião.
 
Esta Rússia em vias de conversão parece, na verdade, tão propensa à decadência como outros países europeus. Um inquérito sobre as nações da Europa Oriental, por exemplo, mostra que os católicos são muito mais propensos do que os ortodoxos russos a participar nas celebrações semanais (42% na Polónia contra 7% na Rússia), a jejuar durante os tempos santos (72% na Croácia contra 27% na Rússia) ou a dedicar-se à oração diária (44% na Croácia contra 18% na Rússia). Os dados das Nações Unidas revelam que a Rússia tem a maior taxa de aborto per capita do mundo, quase três vezes superior à dos Estados Unidos. A Rússia continua a ter um dos mais altos níveis de consumo de álcool do mundo. Também outros indicadores sociais, tais como as taxas de suicídio e os níveis de prostituição, são extremamente altos.     
 
Uma conversão indesejada 
 

Todavia, o facto que funciona mais contra a narrativa da conversão é que a maioria dos russos se identifica com a Igreja Ortodoxa russa, não com a Igreja Católica romana. Assim, rejeitam a narrativa de Fátima enquanto católica. A história da conversão russa tropeça no facto de os russos não quererem ser convertidos por Fátima.           
 
Isto não significa que os russos não tenham querido livrar-se do jugo soviético. Significa apenas que os russos não vêem esta libertação vir de Nossa Senhora de Fátima. Infelizmente, não enquadram as mudanças que acontecem na Rússia como parte de um triunfo universal do Imaculado Coração de Maria.      
 
A narrativa da conversão da Rússia encontra novas dificuldades. Os hierarcas ortodoxos russos tendem a ver as aparições de Fátima como uma fabricação católica concebida para invadir o que afirmam ser exclusivamente “território canónico” ortodoxo e área de influência. Vista à luz do Grande Cisma de 1054, quando a Igreja oriental deixou Roma, a Mensagem de Fátima é rejeitada. Os ortodoxos há muito que perseguem os católicos na Rússia e inibem a prática da verdadeira Fé.    
 
Em vez de abraçar a Mensagem de Fátima como uma ajuda enviada pelo céu para encorajar os russos nesta época de grande necessidade espiritual, a Igreja Ortodoxa russa olha para ela com ressentimento. Argumenta que a Rússia não precisa de conversão porque é cristã há mais de mil anos. Não há necessidade de consagração porque o povo russo já reconheceu Nossa Senhora como a Mãe de Deus, a Theotókos
 
Em suma, a Igreja Ortodoxa russa exclui-se da Mensagem de Fátima porque os seus hierarcas não acreditam que venha do Céu.    
 
Assim, é rejeitado o maior apoio    
 

Há, pois, um grande e sombrio silêncio sobre Fátima nas vastas extensões da Rússia. A Igreja russa e os funcionários civis não apelam a este poderosíssimo aliado sobrenatural que lhes prometeu a libertação dos males modernos. Consequentemente, a Rússia não se converteu e definha na corrupção moral e no pecado que dominam o mundo.        
 
O Ocidente também não se converteu, é claro. Nem sequer ouviu a Mensagem de Fátima quando dela poderia ter beneficiado tanto. Se a Mensagem de Fátima não tivesse sido rejeitada, o apelo universal de Nossa Senhora à oração, à penitência e à mudança de vida teria produzido tais maravilhas que teria transformado o mundo.
 
Uma narrativa que não acabou      
 

A Mensagem de Fátima é ainda actual. Contudo, para que tenha significado, deve-se assumir uma posição verdadeiramente equilibrada, admitindo que tanto o Oriente como o Ocidente não ouviram a Mensagem de Fátima. O mundo inteiro precisa de conversão porque o erro ainda domina em todo o lado. Tanto o Oriente como o Ocidente adoptaram uma posição diferente da exigida pela Mãe de Deus em Fátima e, portanto, abraçam um mundo pecaminoso e moderno. Porque a Mensagem de Nossa Senhora não foi ouvida, tanto o Oriente como o Ocidente dirigem-se para um castigo sem precedentes na história do mundo.  
 
Não é o momento para apontar o dedo uns contra os outros, mas de bater no peito em sinal de arrependimento. Agora, mais do que nunca, o mundo precisa de Fátima. Precisa de arrependimento. A sua única esperança de sobrevivência é Nossa Senhora. 

John Horvat II
Fonte: The American Society for the Defense of Tradition, Family and Property 

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