Nos tempos do Império Ultramarino, que durou até 1974, Portugal estava distribuído pelos 5 Continentes e tinha cidadãos de todas as raças. No entanto, os seus sentimentos de fraternidade e de união na Fé e no serviço da Pátria eram incomparavelmente mais fortes do que hoje, como atesta o episódio narrado a seguir:
«Num dia do século XVII, Macau envia uma embaixada ao Imperador do Japão.
«Para trás, desde os finais do século XVI, o Japão matara e crucifIcara os católicos portugueses e japoneses. Desde 1597 até 1640, data da embaixada de que estamos a falar, foram massacrados milhares e milhares de católicos. Mortos por amor à Cruz de Cristo. Em 1640 acreditou-se que a vingança cega dos japoneses e dos holandeses que os incitavam tinha passado. Envia-se uma embaixada formada por 69 membros, todos se dizendo portugueses, mas todos de raças diferentes. Havia portugueses de Trás-os-Montes, de Macau, negros de Tete, chineses de Macau, da China e malaios. Raças irmanadas por dois enormes amores, a Cristo e ao Rei. Raças que, numa grande ânsia de amar, acreditavam que o mito glorioso do amor os podia remir dos pecados e fazer com que o Japão e Portugal se pudessem amar e não matar. Assim pensavam os embaixadores. Triste, mas heróico, foi o resultado.
«Recebida a embaixada, os Japoneses pretenderam dividi-la, propondo que não morreria todo aquele que renunciasse ao amor a Cristo. Estranha foi a resposta. Negros, amarelos, mulatos, brancos, todos se uniram numa resposta comum. Preferiam morrer por Cristo e pelo Rei do que viver na desonra e no desamor da memória dos companheiros. Dos 69, foram poupados 12 que voltaram a Macau. 57 morreram unidos. Morreram unidos num amor que desconheceu raças, pátrias, nações, tribos. Morreram, amando-se no abraço fatal da morte. Nenhum negou a sua origem básica de português e de cidadão do Impérlo Ecuménico de Cristo. Não houve, nem haverá, maior exemplo. Morreram homens de raças completamente diferentes, por amarem uma ideia abstracta, cultural, foi o que fez a unidade criada pelo Império Mítico e Ecuménico.»
Augusto Pereira Brandão, “A Aventura Portuguesa”, Verbo, 1991, págs. 111-112